FEITIÇARIA E SUPERSTIÇÕES
Em 1609, mais de 300 pessoas foram torturadas e executadas no “templo do terror”, em Bamberg, Alemanha
A CAÇA AS FEITICEIRAS
Era o tempo da grande caça às feiticeiras. Na Europa, dominava a crença de que era obrigação dos cristãos resgatar hereges e pagãos do hediondo destino que os esperava depois da morte.
Muito antes, Santo Agostinho expressava sua convicção de que “não apenas cada pagão, mas cada judeu, herege e cismático, irá para o fogo eterno, a não ser que, antes do fim de sua vida, se reconcilie e se encaminhe para a Igreja Católica”.
A conseqüência dessa atitude foi a imposição de verdadeiro inferno na terra, para milhares de criaturas humanas, com o objetivo de salvá-las do terror do inferno na vida futura.

Entre 1609 e 1622, mais de 300 pessoas foram executadas sob a acusação de feitiçaria, somente no estado de Bamberg. O acusado era torturado sem preocupação de sexo ou idade.
Em 1614 uma mulher de 74 anos atravessou, antes de morrer, os tormentos da tortura até o “terceiro grau”.
O fanático bispo von Dornheim

Era considerado essencial que o acusado confessasse a prática de feitiçaria e, nesse sentido, nenhum esforço era poupado. Os meios empregados incluíam: tostar a vítima numa caldeira de ferro incandescente, beliscar-lhes a pele com pinças quentes, esmagar suas pernas, deslocar as clavículas e esmagar os dedos.
Era extremamente perigoso expressar qualquer dúvida quanto à culpa dos acusados ou à ação da corte e os métodos usados, para obter a confissão. As autoridades estavam determinadas a não deixar que o acusado, um vez preso, escapasse à sua sorte.
Isso foi provado pelo próprio vice-chanceler de Bamberg, Dr. Ham, que tinha mostrado sinais de liberalidade para com os acusados: ele próprio foi acusado de feitiçaria, admitiu sua culpa sob torturas e denunciou outro cinco burgo-mestres do estado. Isso não o salvou: em 1628, o Dr. Ham, sua esposa e sua filha foram queimados, sob a acusação de serem uma súcia de feiticeiros.
A indústria do terror

A caça às feiticeiras, em Bamberg, envolvia uma indústria inteira, que ia desde os juízes até os fornecedores de lenha para queimar os acusados. Todas as despesas eram pagas com o patrimônio do próprio acusado. Se alguém demorasse em confessar, os métodos de tortura atingiam requintes de perversidade: penas em chamas, com ácido sulfúrico, passadas pelas axilas ou pelos órgãos genitais, ou ainda banhos com água fervente, na qual o ácido era adicionado.
Muitas vezes a riqueza do acusado é que provocava a denúncia, prisão, tortura e execução do mesmo. Por isso, a traição entre amigos era coisa comum.
Tudo terminou quando refugiados foram relatar ao imperador os detalhes do simulacro da justiça em Bamberg: leis mais amenas foram baixadas, dando oportunidade de defesa ao acusado. Mas isso não era obra apenas da Conra-reforma: o luterano Benedict Carpzov admitiu ter determinado a execução de, pelo menos, 20 mil pessoas, na Saxônia. Com o gradual declínio da crença na existência do diabo, o medo às feiticeiras abrandou. E, com isso, não houve mais necessidade de mandar queimar, para salvar a alma do acusado.
Em 1630 morreu o bispo Förner e, dois anos depois, foi seguido por seu mestre, o príncipe-bispo Dornheim. Também, a invasão da Alemanha por Gustavo Adolfo, da Suécia, contribuiu para alterar a situação: o réu sueco era protestante. Foi necessária a presença de um herege em solo católico para que cessassem as atrocidades que estavam sendo cometidas em nome da religião. Só assim, colocou-se um ponto final em uma das mais negras páginas da intolerância e da ignorância humana.
Retirado da revista: Homem, Mito e Magia. Vol. I nº VI Pág. 118 a 119. Editora 3. São Paulo. 1973
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