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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Deuses brasileiros

Panteão Indígena Brasileiro

Nhanderu e a roda dos mundos

Nhanderu também chamdo de Iamandu (o deus sol) cuja expressão é Tupã (trovão) junto com Araci tambem chamada iaci ou jaci (a deusa lua) são as duas primeiras entidades do Edhen a cruzar a barreira com paradísia na América do Sul num lugar descrito como um Monte na região do Aregúa (paraguai). E de lá criaram os animais, plantas da américa do sul e as primeiras criaturas místicas , iniciando o povoamento de paradía.

Nhenderu criou Rupave e Sypave em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal. Rupave e Sypave ("Pai dos povos" e "Mãe dos povos") tiveram três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo Guarani. O segundo filho foi Marangatu, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete montros legendários do mito Guarani. Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas e tirar vantagem delas. Ele eventualmente cometeu suicídio, afogando-se, mas foi ressucitado como um caranguejo, e desde então todos os caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.

Mito guarani da criação

A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu (ou Nhanderu ou Tupã), o deus Sol e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Araci, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, Paraguai, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento.



Tupã então criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos Guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.

Nhanderuvuçú é considerado Deus supremo na religião primitiva dos índios brasileiros.

Nhanderuvuçú não tem forma humana a chamada forma antropomórfica, é a energia que existe, sempre existiu e existirá para sempre, portanto Nhanderuvuçú existe mesmo antes de existir o Universo.

A única realidade que sempre existiu, existe e existirá para sempre é a energia a qual os índios brasileiros identificam como Nhanderuvuçú.

No princípio ele criou a alma, que na língua tupi-guarani diz-se "Anhang" ou "añã" a alma; "gwea" significa velho(a); portanto anhangüera "añã'gwea" significa alma antiga.

Nhanderuvuçú criou as duas almas e, das duas almas (+) e (-) surgiu "anhandeci" a matéria.

Depois ele disse para haver lagos, neblina, cerração e rios.

Para proteger tudo isso, ele criou Iara.

Nhanderuvuçú criou também Caaporã o protetor das matas por si só nascidas e protetor dos animais que vivem nas florestas, nos campos, nos rios, nos oceanos, enfim o protetor de todos os seres vivos.

Caaporã quando é evocado para proteger as plantas plantadas junto aos roçados dos índios é chamado por eles de forma carinhosa com o cognome de Ceci.

Caaporã em língua tupi-guarani significa "boca da mata "Caa = boca e Porã = mata"

Dizem as lendas que no meio dos animais protegidos por Caaporã apareceu mais um casal de animais.

A primeira mulher, Amaú (Sypave) e, o primeiro homem, Poronominare (Rupave).


Primeiros humanos

Os humanos originais criados por Tupã eram Rupave e Sypave, nomes que significam "Pai dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente. O par teve três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo Guarani. O segundo filho foi Marangatu, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete monstros legendários do mito Guarani (veja abaixo).

Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas e tirar vantagem delas. Ele eventualmente cometeu suicídio, afogando-se, mas foi ressuscitado como um caranguejo, e desde então todos os caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.

Entre as filhas de Rupave e Sypave estava Porâsý, notável por sacrificar sua própria vida para livrar o mundo de um dos sete monstros legendários, diminuindo seu poder (e portanto o poder do mal como um todo).

Crê-se que vários dos primeiros humanos ascenderam em suas mortes e se tornaram entidades menores.


Os sete monstros legendários

Kerana, a bela filha de Marangatu, foi capturada pela personificação ou espírito mau chamado Tau. Juntos eles tiveram sete filhos, que foram amaldiçoados pela grande deusa Arasy, e todos exceto um nasceram como monstros horríveis. Os sete são considerados figuras primárias na mitologia Guarani, e enquanto vários dos deuses menores ou até os humanos originais são esquecidos na tradição verbal de algumas áreas, estes sete são geralmente mantidos nas lendas. Alguns são acreditados até tempos modernos em áreas rurais. Os sete filhos de Tau e Kerana são, em ordem de nascimento:

1 - Teju Jagua, deus ou espírito das cavernas e frutas
2 - Mboi Tu'i, deus dos cursos de água e criaturas aquáticas
3 - Moñai, deus dos campos abertos. Ele foi derrotado pelo sacrifício de Porâsý
4 - Yacy Yateré, deus da sesta, único dos sete a não aparecer como monstro
5 - Kurupi, deus da sexualidade e fertilidade
6 - Ao Ao, deus dos montes e montanhas
7 - Luison, deus da morte e tudo relacionado a ela


O Mito: A criação da Noite

Nas Aldeias de todo o mundo, nas terras dos índios, era sempre dia. Nunca havia noite, estava sempre claro. Os homens não paravam de caçar, nem as mulheres de limpar, tecer e cozinhar. O sol ia do leste ao oeste e depois refazia o caminho, ia do oeste ao leste, seguindo assim.

Mas teve um dia que o caso mudou. Quando Tupã, aquele que controlava tudo, havia saído para caçar, um homem muito curioso tocou no frágil Sol para saber como funciona. Então o Sol que dava luz e calor havia se apagado, havia quebrado em mil pedacinhos. Então as trevas haviam reinado na aldeia.

Tupã não se conformou com tal atitude do homem, e o transformou em um novo animal, que tinha as mão douradas como o Sol que brilhava. E deu-se o nome àquele bicho de macaquinho-de-mão-d'ouro. Tupã então tratou de refazer o Sol. Mas ele só ia ao oeste e não conseguia voltar. Então criou assim a Lua e as estrelas para iluminarem a noite. E assim ia, o Sol ia até o poente, não voltava, e então vinha a Lua e as estrelas. Acabava a noite e o Sol voltava. mas o sol sempre sorrindo ia e um dia viu a lua orgulhoso do que fez

Enfim os índios Brasileiros adoram o que existe de fato, adoram somente o que é realmente real, os fenômenos naturais, o clima, a natureza, apenas as coisas reais. "A realidade é a única verdade em que podemos acreditar".

"Tupã-Cinunga" ou "o trovão", cujo reflexo luminoso é tupãberaba, ou relâmpago cuja voz se faz ouvir nas tempestades sua morada é o Sol.

Tupã representa um ato divino, é o sopro da vida, e o homem a flauta em pé, que ganha a vida com o fluxo que por ele passa."



O PANTEÃO

ANGATUPRI - Espírito ou personificação do bem

ANHANGÁ - Deus Infernal

ANHUM - Deus do Canto e da Música, neto de Tupã tocava Taré.

ARACI - Na mais longínqua e remota antiguidade, Itaquê, o mortal, amou a imortal Deusa Lua Jaci. Dessa união, nasceu Araci, que ao morrer, foi elevada aos céus por sua mãe, tornando-se a ninfa das manhãs e da aurora.

BOTO - Deus dos abismos dos mares, que governa os oceanos e habita a sagrada Loca, que é a habitação dos Deuses marinhos no fundo das águas.

COROACY - Deusa Solar ou a Mãe do Dia. Ela representa a primeira visão do Sol matinal.

CURUPIRA - Foi enviado para terra por Tupã para proteger os campos e florestas.

CY - A Mãe de Todos, a encarnação da Terra e de todos os ventres grávidos.

DEUSA ARANHA - Deusa tecelã da vida que trouxe nos fios de sua teia os Caiapós do espaço para habitar a Terra.

GUARACY - Deus Sol.

IAVU-RÊ-CUNHÃ - Duende da Mata dos Kamaiurá.

JACY - Deusa-Lua, a poderosa Mãe da Noite e Senhora dos Deuses. Tem duas formas: Jacy Omunhã (Lua Nova) e Jacy Icaua (Lua Cheia).

JURUTI - A Mãe dos rios.

KATXURÉU - Deusa da Morte dos indígenas.

MARA- Deusa das Trevas.

MULHER ARARA - Deusa Mãe que possui o poder de transformar-se tanto em pássaro como em mulher.

NAIÁ - Fada que habita a flor da planta conhecida por Vitória-Régia.

NETE BEKU - Deusa Mãe que ensinou aos Kaninawás sobre o uso dos vegetais.

NHARÁ - Deus do Inverno.

PÉDLERÉ - Deusa da Morte dos índios krahôs.

PÔLO - Deus do Vento e Mensageiro dos Deuses.

POMBERO - Um espírito popular de travessura

PYTAJOVÁI - Deus da guerra

RUDÁ - Deus do Amor, encarregado da fertilidade e da reprodução.

SETE ESTRELO - O Deus das Plêiades.

SUMÁ - Deusa da Ira, que envolta em uma manta negra de cipó chumbo, vagava pela terra, espalhando ódio e discórdia. Era uma Deusa Guerreira que orientava e protegia a agricultura. Uma lenda bem antiga, afirma ser ela filha legítima de Tupã e Jaci.

TAMBA-TAJÁ - Deus do Amor.

TAU - Deus/Espirito do Mau.

TATAMANHA - Deusa das Labaredas e das faíscas.

TICÊ - Esposa de Anhangá (Deus Infernal).

TIRIRICAS - Deusas da Raiva, do Ódio e da Vingança.

TOLORI - Deus da Tempestade e inimigo das mulheres.

TUPÃ - (que na língua tupi significa trovão) é uma entidade da mitologia tupi-guarani.

Os indígenas rezam a Nhanderuvuçu e seu mensageiro Tupã. Tupã não era exatamente um deus, mas sim uma manifestação de um deus na forma do som do trovão. É importante destacar esta confusão feita pelos jesuítas.Nhanderuete, "o liberador da palavra original", segundo a tradição mbyá, que é um dialeto da língua guarani, do tronco lingüístico tupi, seria algo mais próximo do que os catequizadores imaginavam.

Câmara Cascudo afirma que Tupã "é um trabalho de adaptação da catequese". Na verdade o conceito "Tupã" já existia: não como divindade, mas como conotativo para o som do trovão (Tu-pá, Tu-pã ou Tu-pana, golpe/baque estrondante), portanto, não passava de um efeito, cuja causa o índio desconhecia e, por isso mesmo, temia. Osvaldo Orico é da opinião de que os indígenas tinham noção da existência de uma Força, de um Deus superior a todos. Assim ele diz: "A despeito da singela idéia religiosa que os caracterizava, tinha noção de Ente Supremo, cuja voz se fazia ouvir nas tempestades – Tupã-cinunga, ou "o trovão", cujo reflexo luminoso era Tupãberaba, ou relâmpago. Os índios acreditavam ser o deus da criação, o deus da luz. Sua morada seria o sol

Para os indígenas, antes dos jesuítas os catequizarem, Tupã representava um ato divino, era o sopro, a vida, e o homem a flauta em pé, que ganha a vida com o fluxo que por ele passa.

UALAIMKÍPIA - Deusa-Pássaro da Morte equivalente a Deusa grega Hécate.

UIAPURU - O Deus do amor do mundo alado, o pássaro encantado considerado o orfeu amazônico.

VITÓRIA RÉGIA - Deusa-fada do reino vegetal.

XUNDARUÁ - Deusa Peixe-Boi padroeira da pesca e dos pescadores.

YARA - (também chamada de "Mãe das Águas"), segundo o Mitologia Índigena, é uma lindissima Sereia morena, de longos cabelos negros e olhos castanhos, que costuma banhar-se nos Rios e Cachoeiras, cantando uma Melodia de Beleza irresistível. Os homens que a vêem não conseguem resistir a seus desejos e pulam nas Águas, e ela então os leva para o fundo; quase sempre não voltam vivos. Os que voltam ficam loucos, e apenas uma benzedeira ou algum ritual realizado por um Pajé consegue curá-los. Os Índios têm tanto medo da Iara que procuram evitar os lagos ao entardecer.Iara antes de ser sereia era uma índia guerreira, a melhor de sua tribo. Seus irmãos ficaram com inveja de Iara pois ela só recebia elogios de seu pai que era pajé, e um dia eles resolveram tentar matá-la. De noite quando Iara estava dormindo seus irmãos entraram em sua cabana só que como Iara tinha a audição aguçada os ouviu e teve que matá-los para se defender, e com medo de seu pai fugiu. Seu pai propôs uma busca implacável por Iara. E conseguiram pegá-la, como punição Iara foi jogada bem no encontro do rio Negro e Solimões, os peixes a trouxeram a superfície e de noite a lua cheia a transformou em uma linda sereia, de longos cabelos negros e olhos castanhos.
Era o deus dos peixes. Era , segundo outros, a Sereia ou Mãe d'água, pois Y-Yára quer dizer - a que mora na água. A raça desses monstros marinhos chamavam de Y-Yára-ruoiara.

YANUBÊRI - Avó ancestral indígena muito poderosa.

YEBÁ BELÓ - A Avó do Universo.
“Yebá Beló fez a si mesma a partir de utensílios invisíveis e pensava em como deveria criar o mundo. Ainda não havia luz, Yebá então criou três trovões, do primeiro fez surgir Emeko, um ser invisível, do segundo Emeko criou o Sol e com poder concedido por Yebá Beló criou o homem. Do último trovão Emeko criou os animais. Yebá formou ainda a terra, com sementes do seu seio esquerdo e adubando com leite do seio direito. A criação se dá por completo, quando dois índios, Curu e Rairu, enviados por Tupã, estendem uma corda e puxam pessoas por um buraco na terra, dando início a povoação do mundo”

YUSHÃ KURU - Deusa feiticeira ou curandeira que ensinou os xamãs kaxinawás a curar. Conhecida também como a Fêmea Roxa, deu muitos conselhos e surgiram os remédios. Uns eram venenos para matar: olho forte, Beru Paepa. Mijo amargo, Isü Muka. Outro para coceira, Nui. A velha Fêmea Roxa observava bem as folhas e os pés das árvores: ─ Esse mato não é remédio forte.

E assim foi... Surgiram muitos remédios, todos os remédios que têm na mata. Remédio bom que cura as pessoas. Bom para picada de cobra, picada de escorpião, aranha, reumatismo e fígado.A Fêmea Roxa,
Yushã Kuru, conhecia bem todas as folhas desses remédios.

Depois não ensinava vira mais ninguém. Usava todos esses remédios sempre escondida de todo mundo. Até que um dia, a velha Fêmea começou a ensinar para neto dela, o tubo de sua filha. Ensinava a ele todos os remédios da mata que sabia. Ensinava também como preparar estes remédios. Também ensinava o remédio forte e venenoso para colocar feitiçono outro. E experimentava com ele para saber se ele tinha aprendido tudo que sua avó sabia.
Aprendeu a preparar o veneno para botar feitiço no outro. E, as vezes, com mato venenoso, tirar o espírito da pessoa.Quando a mulher moça ou o homem rapaz crescia bonito, ela botava feitiço. Quando o homem era trabalhador, a mulher fazia artesanato e quando esculhambava com a velha Fêmea Roxa ela também botava feitiço para essas pessoas morrerem.
Na aldeia, o povo nau sabia o que a Fêmea Roxa fazia. Passou muito tempo sem ninguém perceber a situação.

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quarta-feira, 17 de julho de 2019

Eu sou

Eu sou o cervo de sete dentes,
Eu sou a inundação através de uma planície,
Eu sou o vento em um lago profundo,
Eu sou a lágrima que o Sol deixa cair,
Eu sou o falcão acima do penhasco,
Eu sou o espinho debaixo da unha,
Eu sou a maravilha entre as flores,
Eu sou o bruxo, quem se não eu
Incendeia a cabeça fria com fumaça?


Eu sou a lança que ruge para o sangue,
Eu sou o salmão em um lago,
Eu sou a atração a partir de paraíso,
Eu sou a colina onde poetas caminham,
Eu sou o javali cruel e vermelho,
Eu sou o destruidor ameaçando desgraça,
Eu sou a maré que se arrasta até a morte,
Eu sou a criança, quem se não eu
Espreita do arco do dólmen bruto?


Eu sou o ventre de cada bosque,
Eu sou o fogo em cada colina,
Eu sou a rainha de cada colmeia,
Eu sou o escudo para cada cabeça,
Eu sou o túmulo de toda a esperança.


Eu sou o vento sobre o mar.
Eu sou a onda do oceano
Eu sou o rugido das ondas,
Eu sou o poderoso boi de combate,
Eu sou o falcão no penhasco,
Eu sou a gota de orvalho no raio de Sol,
Eu sou o javali selvagem,
Eu sou o salmão da sabedoria,
Eu sou o lago da planície,
Eu sou a força da palavra,
Eu sou a lança certeira,
Eu sou o fogo que cria o pensamento.


Quem ilumina a pedra da montanha, se não eu?
Quem sabe o lugar no qual o pôr-do-sol se deita?
Quem conhece as idades da lua, se não eu?
Quem mostra o lugar de onde o sol vai descansar?
Quem chama o gado de volta para casa, se não eu?
Quem é o Deus da forma, da batalha e dos ventos?
Quem é que sabe o segredo do dólmen, se não eu?

Amergin, o Druida
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terça-feira, 25 de junho de 2019

Minha origem...



Venho de um tempo distante, de terras distantes.
Venho de um tempo de reis, princesas, cavaleiros e dragões.
Venho de um tempo em que se olhava para o céu e se contemplava as estrelas.
Venho de um tempo em que se aprendia com a natureza.
Tudo era mistério, tudo era sagrado.
De uma simples pedra ao cristal de fino trato.
Havia algo muito valioso, que todos almejavam.
Não eram jóias, nem ouro, nem o trono de um rei.
Havia magia... sim, era magia que havia nesse tempo. E era o dom da magia que todos queriam.
Pensavam que a magia trazia o poder, o poder de dominar até mesmo um reino.
O que não sabiam é que a magia é um dom que só é dado aos puros de coração.
Venho do tempo e da terra da magia.
Venho de muito, muito longe e trago comigo o presente que ganhei.
Mas não importa de onde eu venha, nem tão pouco pra onde eu vá. Só importa o que levo comigo e o amor que vou deixar.



Fonte: (Desconheço a autoria) Achei em um rascunho antigo de email, não lembro de onde veio, se souber, por favor indique.
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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A compreensão dos xamans


O mal-entendido neoxamânico pode ser gigantesco

Agradecimentos ao administrador do blog Cronistas Indígenas, que gentilmente permitiu a publicação desse excelente texto em nosso blog. O original se encontra nesse link.
Pelo Dr. Jacques Mabit
Traduzido do francês para o português por José Pimenta**

“Xamanismo amazônico” / “estudantes ocidentais”. A justaposição destes dois termos mergulharia sem dúvida os nossos antepassados na perplexidade, mas se tornaram familiares para nós. No entanto, de acordo com um especialista, a nossa confiança tranquila esconde um equívoco perigoso. Não se atravessa ingenuamente os milênios que separam a modernidade da magia pré-histórica! O alarme é ainda mais justificado por vir de um terapeuta que não temeu pela sua reputação, saindo do caminho seguro para ir ao encontro apaixonado de “curandeiros” da selva. Amigo de Jeremy Narby ou Jan Kounen, ele vê o turismo xamânico com um olhar preocupado. Há mais de dez anos, o Dr. Jacques Mabit organiza estágios para ocidentais com xamãs da Amazônia peruana. No início, sua ação se concentrava nos viciados em drogas, para os quais a “visita “mágica” à sua interioridade. paradoxalmente, os livraria da droga. Mas, aos poucos, o “neoxamanismo” virou moda e o centro Takiwasi (O pássaro que canta) aceitou abrir suas portas a um público cada vez maior. Hoje, Jacques Mabit faz um balanço e seu discurso é mais que ambivalente. Segundo ele, muita ingenuidade, uma impaciência infantil, hábitos aconchegantes e uma longa ruptura com a natureza e o corpo selvagens e, acima de tudo, uma ignorância estúpida e generalizada da dimensão simbólica verdadeiramente vivida, associada com a hipertrofia do ego, fazem do encontro entre ocidentais e xamãs, mais frequentemente do que poderíamos pensar, um mercado de ilusões. E como o objeto do mal-entendido não é nada mais que o despertar da consciência, a ilusão pode rapidamente se transformar num labirinto assustador. A seguir, partes de um artigo do Dr. Jacques Mabit publicados no verão de 2005 na revista Synodies.


A onda xamânica

No pequeno refúgio da Alta Amazônia onde eu moro há quase vinte anos, assisto a ondas crescentes de ocidentais sedentos para entrar em contato com as práticas das medicinas tradicionais amazônicas. Como eu fui um dos iniciadores desse movimento, não posso deixar de hesitar entre a satisfação e o pavor diante desse entusiasmo para o que agora se convencionou chamar pelo nome de “xamanismo”, inadequado do ponto de vista antropológico. (...)

Assistimos atualmente a uma chegada maciça de cidadãos de países do Norte nos cantos mais isolados das florestas, das montanhas e dos desertos do Peru, e de outros lugares, para encontrar ali o “xamã” ainda “virgem” que irá conciliá-los consigo mesmo. As coisas também se complicam desde que o movimento inverso se iniciou, ou seja, com a ida de “xamãs” para Europa, sem falar de brancos que se apresentam como iniciados, capazes de substituir os mestres indígenas. (...).

Ora, o universo simbólico de uns e dos outros é totalmente distinto e é justamente essa maneira específica de apreender o vivido interior que será colocada em jogo durante as experiências xamânicas, como por exemplo com a ayahuasca. Corremos portanto um forte risco, se o nosso viajante ocidental não tiver um mínimo de conhecimento do universo simbólico de sua própria cultura (o que se tornou a regra) de confundir charlatães com grandes mestres e visões pessoais com revelações universais. E a capacidade de autoilusão é tanta que diante da expectativa colocada e dos investimentos envolvidos no processo, o interessado não se importa de ser advertido de sua inocência porque pensa ouvir do seu “mestre”, que ele agora faz parte dos “iniciados”. A questão que se coloca portanto é: um ocidental pode apreender a experiência xamânica de modo a tirar dela um beneficio real e não contribuir à degradação acelerada dessas práticas nas sociedades tradicionais?


Quando o Senhor Dupont reencontra um xamã indígena. 

Nós sabemos que somos fisicamente incapazes de suportar até mesmo uma fração da experiência real de um xamã amazônico. Mas nossas fantasias de afinidade se alimentam de outras coisas. Assim, um ocidental pensa ver no xamã um homem que fez um longo trabalho sobre ele mesmo e que venceu seus demônios interiores: uma mistura de “bom selvagem” de Rousseau e de “sábio” oriental. Mas um índio pode se tornar um especialista no uso de forças invisíveis da natureza (notadamente humana) sem ter feito qualquer trabalho sobre si, tendo essencialmente acumulado no seu corpo as armas energéticas necessárias para o combate. 

No mundo tribal, extremamente estruturado e hierarquizado, a sobrevivência do grupo tem prioridade sobre o indivíduo e a lei de talião (“olho por olho”) deve constantemente reequilibrar a relação com o outro, cujo disfuncionamento explica todos os males. Enquanto isso, o nosso fundo ocidental greco-judaico-cristão nos pede para fazer do outro um irmão e não um inimigo, o indivíduo representando a nossa maior meta.

Podemos ter que lidar com um grande feiticeiro, um homem poderoso, mas que não controla em nada seus impulsos egóticos. A maior parte dos xamãs são temidos por seus próximos por causa desse poder de inversão agressiva que é sempre possível (...). É por isso que muitos jovens recusam o aprendizado xamânico, para não se expor a “serem odiados por toda a vida” (...)

Diante deste mundo de feitiçaria extremamente ativo, vários ocidentais acreditam estarem protegidos pelo fato de “não acreditarem”. Eles ririam se um índio lhes dissesse que estariam protegidos de um vírus ou de uma bactéria por não acreditarem nisso! (...)


O ângulo cego do cérebro direito 

Da mesma forma que os ocidentais têm desenvolvido de maneira extraordinária as funções psíquicas do lado esquerdo do cérebro, os grupos étnicos da Amazônia são especialistas na utilização das funções psíquicas do lado direito do cérebro que, no nosso caso, é subutilizado. Podemos comparar a nossa ignorância sobre esse assunto à ignorância de um índio amazônico médio em física quântica ou em filosofia germânica. 

Um grande xamã pode se mostrar incapaz de expressar suas experiências em sequências lógicas. Por outro lado, quantos grandes cientistas ocidentais são inaptos para gerenciar sua vida emocional ou interpretar seus sonhos?

Os xamãs desenvolveram técnicas sofisticadas para a gestão de energias - processo de materialização-desmaterialização, de domínio do humor dos sujeitos, de indução de pensamento através dos sonhos, etc. Essas funções, que escapam à nossa formação ocidental, integram o espaço inconsciente da nossa psyché. Sua manipulação é ainda mais eficiente em nós por não sabermos de sua existência. Assim, existe uma arte xamânica de sedução altamente desenvolvida, que pode ter objetivos sexuais, mas não só, e que afeta muitos “turistas xamânicos” sem que eles percebam (...).


Alargamento da consciência ou inflação do ego? 

O mal-entendido também acontece quanto à finalidade da abordagem xamânica. O Ocidental quer compreender racionalmente para satisfazer sua inquietação e encontrar a paz, que é principalmente a de sua mente perturbada. Para um habitante da Amazônia, a angústia essencial diz respeito ao seu equilíbrio com a natureza e o mundo invisível, sua capacidade de trabalho físico para manter sua autossuficiência, sua sobrevivência. Se o seu corpo é purificado, ele sabe, então, que sua cabeça funcionará melhor, que ele terá sonhos, que os espíritos se aproximarão... Para o Ocidental, é a ausência de visão que é geradora de frustração porque é isso que ele espera: ele ignora que, para a maior parte das etnias amazônicas, tomar ayahuasca é secundário em comparação com a ingestão das preparações vegetais purgativas! Quando um índio toma ayahuasca, o xamã pergunta-lhe, sobretudo, se as plantas vomitivas tiveram efeito, porque é a purificação física que atesta o sucesso da bebida. (...).

De modo mais geral, mesmo num contexto ideal, com um xamã correto, a ausência de preparação para a entrada num universo simbólico pode levar a sérios problemas. Para o índio na sua tribo, a bagagem cultural transmitida desde a infância fornece uma compreensão das experiências xamânicas: uma cosmogonia, interpretações coletivas, lendas, mitos, histórias familiares ou clânicas que lhe possibilitam situar automaticamente o seu vivido em relação a si mesmo e ao seu universo de referência. Ao contrário, o empobrecimento simbólico da educação racional ocidental, o reducionismo do mito científico e a dessacralização das práticas culturais produzem cidadãos desprovidos de referências claras do mundo interior, assim como de qualquer dimensão transcendental. E o desaparecimento dos ritos de passagem “constrói” uma massa de adultos que não nasceram psiquicamente e permanecem trancados num mundo materno no qual as funções psíquicas masculinas são excluídas e se tornam inacessíveis. No ocidental, os processos de reificação são uma tentação permanente, objetivando o que é da ordem do simbólico. O simbolismo entre nós se esvaziou de sua substância. Ele não desempenha mais nenhuma função operante e se transformou na imagem refletida da virtualidade informática. Por exemplo, várias feministas se sentem ofendidas pelo fato de, segundo os curadores, uma mulher não poder tomar ayahuasca quando está menstruada. Elas interpretam esse fato como um vestígio machista de tribos primitivas ou então pela via de uma leitura psicanalítica em torno da questão do desejo. Procuram, portanto, transgredir essa recomendação muito importante, que diz respeito concretamente ao fato de que as emanações do sangue menstrual proíbem momentaneamente, no plano energético, as viagens interiores.


Quanto ao ego, com sua pretensão de ser todo poderoso, abraça prontamente as experiências xamânicas procurando se apropriar delas. Quantos ocidentais que tomam ayahuasca e visualizam a energia em suas mãos pensam imediatamente que são chamados para se tornar curandeiros ou que já eram sem mesmo saber? (...)

Teriam ainda outros elementos culturais para desenvolver, elementos que caracterizam o mundo tribal e que são fontes de incompreensão entre índios e ocidentais. Assim, a “sinceridade” ocidental será quase sempre percebida por um índio como uma agressão, e (por sua vez) sua impossibilidade cultural em dizer “não” será vista como uma hipocrisia por um visitante ocidental. Como fazer entender em poucas palavras que a amizade entre um homem e uma mulher não existe no contexto tribal? Uma europeia bem intencionada, que aceita amavelmente o gesto de um índio, na realidade, significa para este que está disponível sexualmente. 


As portas da reconciliação

Dizer que “cada um possui um xamã dentro de si” nos parece no melhor dos casos uma piada, ou, no pior, uma mentira. As vocações são raras e também existem poucas pessoas que têm um “Mozart ou um Modigliani dentro de si”. Enquanto são necessários anos de formação para se tornar um técnico especializado, ficamos surpreendidos quando sabemos que podemos nos tornar xamã e dominar os estados de consciência após alguns finais de semana de formação no bosque de Fonteinebleau! Muitos estágios ditos xamânicos propostos no contexto new age fazem uso, na realidade, de técnicas de relaxamento, de sonho acordado, de indução hipnótica, etc. Só têm de xamânico o nome (...).

A iniciação é um processo lento e longo que exige a integração das experiências em diversos níveis (físico, psíquico, emocional, espiritual) e no qual um ocidental não pode ignorar a sua própria cultura. Mais que uma fuga para um outro mundo, trata-se de reintegrar suas próprias raízes e de se reconciliar consigo mesmo e com seus ancestrais, o que, no nosso caso, significa se reapropriar também do fundamento cultural judaico-cristão. O desvio para uma cultura ancestral pode se provar sensato com a condição de estarmos preparados para voltar “pra casa”. Além disso, a aquisição prévia ou simultânea de uma formação que tenha uma dimensão de ajuda ou uma profissão que inclui uma dimensão terapêutica me parece essencial. A experiência xamânica deve ser preparada antes, ser conduzida dentro de um dispositivo simbólico de contenção e, por fim, ser seguida por etapas ulteriores de integração do vivido. Ela exige, portanto, um espaço específico. 

Com essas condições, o Espírito que sopra onde quer e quando quer, poderá inspirar vocações terapêuticas, que se enraízam em culturas diferentes mas que falam do Homem eterno.

Publicado na Revues Synodies “Le transpersonnel?”, verão 2005, Ed. GRETT (Groupe de Recherche en Thérapies Transpersonnelles). 
* Originalmente publicado em: http://www.inspir.be/?page_id=2792

** O ProfDr José Pimenta é antropólogo, 
professor na UnB e possui um longo histórico
 de pesquisa e vivência junto ao 
povo Ashaninka do Alto Juruá, no Acre.

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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Lenda da cobra grande (ou Boiúna)

A Lenda da Cobra grande é uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico que
fala de uma imensa cobra, também chamada Boiúna, que cresce de forma gigantesca e ameaçadora, abandonando a floresta e passando a habitar a parte profunda dos rios. Ao rastejar pela terra firme, os sulcos que deixa se transformam nos igarapés. Conta a lenda que a cobra-grande pode se transformar em embarcações ou outros seres. Aparece em numerosos contos indígenas. Tem sido tema para nossa música, poesia e folclore.



A Lenda

Há muito tempo, existiu em uma das tribo do Amazonas, uma mulher muito perversa que inclusive, devorava crianças. Para por fim a tantas dores causadas por ela, a tribo decidiu atirá-la no rio, pensando que ela morreria afogada e nunca mais viesse a perseguir ninguém. Porém, Anhangá, o gênio do mal, decidiu não deixá-la morrer e casou-se com ela, dando-lhe um filho. O pai transformou o menino em uma cobra, para que ele pudesse viver dentro do rio. Porém, logo a cobra começou a crescer e crescer...

O rio tornou-se pequeno para abrigá-la e os peixes iam desaparecendo devorados por ela. Durante a noite seus olhos iluminavam como dois faróis e vagavam fosforescentes por sobre os rios e as praias, espreitando a caça e os homens, para devorá-los. As tribos aterrorizadas, deram-lhe o nome de Cobra Grande.

Um dia a mãe da Cobra Grande morreu. Sua dor manifestou-se por um ódio tão mortal que de seus olhos brotavam flechas de fogo

Também se conta que em certa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna, deu à luz a duas crianças gêmeas. Uma delas, um menino, recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Mas a Índia não queria as crianças e para ficar livre dos filhos, ela jogou as duas crianças no rio. Entretanto as crianças não morreram, e conseguiram sobreviver e se criaram. Honorato não fazia nenhum mal, mas sua irmã tinha uma personalidade muito perversa. Causava sérios prejuízos aos outros animais e também às pessoas.

Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas maldades. Segundo muitas pessoas narram, Honorato em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo e elegante rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal na terra.

Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita audácia para derramar leite na boca da enorme cobra e fazendo um ferimento na cabeça dela até sair sangue. Porém ninguém tinha coragem de enfrentar a enorme cobra. Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato do terrível encanto, e ele deixou de ser cobra d'água para viver na terra como um homem e com sua família.


Histórico:

A boiúna, de mboi, "cobra" e una, "negra", também conhecida como boiaçu, de mboi e açu, "grande", ou ainda cobra-grande é, segundo Câmara Cascudo, o mais poderoso e complexo dos mitos amazônicos, exercendo ampla influência nas populações às margens do rio Amazonas e seus afluentes.

Faz parte do ciclo dos mitos d'água, de que a cobra é um dos símbolos mais antigos e universais. Senhora dos elementos, a cobra-grande tinha poderes cosmogônicos, explicando a origem de animais, aves, peixes, o dia e a noite. Mágica, irresistível, polimórfica, aterradora, a cobra-grande tem, a princípio, a forma de uma sucuri ou uma jibóia comum. Com o tempo, adquire grande volume, abandona a floresta e vai para o rio. Os sulcos que deixa à sua passagem transformam-se em igarapés. Habita a parte mais funda do rio, os poções, aparecendo vez por outra na superície. É descrita como tendo de 20 metros a 45 metros.

Martius (Viagem pelo Brasil) registrou a força assombrosa do medo que os indígenas tinham do monstro, com as dimensões multiplicadas pelo terror. Chamavam-no de Mãe-d'água e Mãe-do-rio, mas as histórias só mencinavam a voracidade da cobra-grande, arrebatando crianças e adultos que se banhavam. Recusavam-se a matar a cobra, porque então era certa a própria ruína, bem como de toda a tribo.

Esse registro, de 1819, denuncia a existência de um outro mito entrevisto e anotado por Barbosa Rodrigues (Poranduba Amazonense), o da constelação do Serpentário (Ofiúco), que aparece no céu em setembro, o tempo das roças, princípio do tempo de Coaraci, o Sol. Couto de Magalhães ouviu a lenda de como a noite apareceu, numa época em que não havia noite, e a filha de Cobra-grande pediu a noite ao pai como presente de casamento.

Há ocasião em que nenhum pescador se atreve a sair para o rio à noite, pois duas vezes seguidas foi avistada uma Cobra-grande... pelos olhos que alumiavam como tochas. Os pescadores foram perseguidos até a praia, somente escapando porque o corpo muito grande encalhou na areia. Esses pescadores ficaram doentes de pânico e medo da experiência que relatavam com real emoção. (Eduardo Galvão, Santos e Visagens, Brasiliana, São Paulo, 1955).


Mais Lendas da Boiúna

Em Belém, há uma velha crença de que existe uma cobra-grande adormecida embaixo de parte da cidade, cuja cabeça estaria sob o altar-mor da Basílica de Nazaré e o final da cauda debaixo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outros já dizem que a tal cobra-grande está com a cabeça debaixo da Igreja da Sé, a Catedral Metropolitana de Belém, e sua cauda debaixo da Basílica de Nazaré: é o percurso da tradicional procissão do Círio de Nazaré, com 3,3 quilômetros de extensão. Os mais antigos dizem que se algum dia a cobra acordar ou mesmo tentar se mexer, a cidade toda poderá desabar. Por isso, em 1970 quando houve um tremor de terra na capital paraense, dizia-se que a tal cobra havia se mexido. Os mais folclóricos iam mais longe: "imagine se ela se acorda e tenta sair de lá!". 
Fonte: Jornal "A Crítica",

Manaus, AM

Em Roraima, conta-se que Cunhã Poranga ("índia bela") apaixonou-se pelo rio Branco e, por isso, Muiraquitã ficou com ciúme. Para se vingar, Muiraquitã transformou a bela índia na imensa cobra que todos passaram a chamar de Boiúna. Como ela tinha um bom coração, passou a ter a função de proteger as águas de seu amado rio Branco. 

Entre as populações que habitam as margens dos rios Solimões e Negro, no Amazonas, acredita-se que quando uma mulher engravida de uma visagem, a criança fruto desse terrível cruzamento está predestinada a ser uma cobra-grande.
Há quem acredite que a cobra-grande pode nascer de um ovo de mutum. 

Segundo uma lenda mais comum no Acre, uma cobra-grande se transforma numa bela morena nas noites de luar do mês de junho, para seduzir os homens durante os arraiais de festas juninas, como se fosse a versão feminina do boto. 

O folclorista Walcyr Monteiro conta que em Barcarena (PA) existe o lugar conhecido como "Buraco da Cobra-Grande", atração turística do local. 

Misabel Pedrosa diz que a Cobra-grande mora debaixo do cemitério do Pacoval, na ilha de Marajó.


Cobra-grande como navio encantado

Arte de Paulo Felipe M. Olimpo
Ticuna - O Livro das Árvores. 1997
Aparece sob diferentes aspectos. Ora como cobra preta, grande, de olhos luminosos como dois faróis, ora como embarcação a vapor ou a vela. Eduardo Galvão cofirma ter a Cobra-grande se tornado navio encantado. O poeta Raul Bopp assim interpretou a cobra-grande:

- Axi, cumpadre
arrepare uma coisa:

lá vem um navio
vem-que-vem-vindo depressa, todo alumiado.
Parece feito de prata...
- Aquilo não é navio, cumpadre
- Mas os mastros e as luises... e o casco dourado?...

Alguns contam que a cobra grande pode algumas vezes parecer um navio para assustar os ribeirinhos. Refletindo o luar, suas enormes escamas parecem lâmpadas de um navio todo iluminado. Mas quando o "navio" chega mais perto é possível ver que na verdade é uma cobra grande querendo dar o bote.


A cobra de Fawcett

O coronel britânico Percy Harrison Fawcett, explorador que realizou sete expedições na Amazônia de 1906 a 1925, relatou ter visto cobras gigantescas, ou seus indícios. Em um de seus diários, ele anotou, em 1907: "Estávamos calmamente seguindo a corrente preguiçosa, não longe da confluência do Rio Negro, quando quase sob o arco da igara apareceu uma cabeça triangular e vários pés de corpo ondulante. Era uma sucuri gigante. Corri para meu rifle enquanto a criatura fazia seu caminho rumo ao banco de areia e, quase sem esperar para mirar, disparei uma bala de ponta macia calibre .44 em sua espinha, dez pés (3 metros), abaixo da maldita cabeça."

O barco parou para que o coronel pudesse examinar o corpo. A despeito de ter sido mortalmente ferida, "convulsões subiam e desciam pelo corpo como golpes de vento em um lago de montanha." Embora não tivessem equipamentos para medições com ele, Fawcett estimou que a serpente tinha 19 metros de comprimento e 30 cm de diâmetro.

Nos pântanos de Madre de Diós, em Bení, Bolívia, Fawcett disse ter visto rastros de uma cobra que indicavam um comprimento de 24 metros.

Fontes: 
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sábado, 1 de dezembro de 2012

Ancestral Local


O artigo a seguir é uma pertinente reflexão sobre o paganismo brasileiro de autoria do amigo Hugo Cezar F. Gondim, o Druida do vento, autor do fantástico blog druidadovento.blogspot.com.br, foi publicado com autorização.

“Pagão Brasileiro” gosta de índio europeu ou estrangeiro. É perceptível a parafernália norte-americana, o calendário Maia que é Asteca, os negócios da China, as brumas de Avalon, a entoação de Mantras e o sal do Mediterrâneo. Eu ainda estou me esforçando para encontrar os deuses ancestrais do Brasil, que desapareceram do repertório de estudos do tal “Pagão Brasileiro”. É notável a falta de sentimento pela Terra que está sob nossos pés neste país, atingindo pagãos, cristãos e sei lá quem. Nós nunca olhamos para o chão, sempre estamos a procura de outro lugar. Li uma frase esses dias que me intrigou: “Se não fosse Pedro Alvares Cabral, eu estaria na Europa”. Quem disse que Pedro Alvares Cabral tem algo com sua encarnação atual? 
Quando as espiritualidades pagãs no Brasil exploram deidades indígenas, elas são quase sempre Incaicas, Maias, Astecas, Norte-Americanas e Canadenses. A figura do Xamã para um “pagão brasileiro” é um velho índio Hopi ou Cree, ou ainda um Siberiano. Pajelança não é paganismo, segundo o “pagão brasileiro”, porque a Umbanda usufrui. Muito além disso, criou-se a consciência que o pajé morreu, inexistente na atualidade, são “benzedeiros”. Cultura indígena é coisa de historiadores e antropólogos, que devem congelar seus mitos em livros. Pensamento dos nossos avós de que “índio bom é índio morto”. 

Se o Pajé com elementos cristãos também não é mais “pagão”, Neo-xamã e xamã urbano são o que então? Mas o Pajé é um pobre coitado que aceitou ser subjugado pela cultura do branco. Não, mas espere um instante! Essa fala é do colonizador, não do nativo. Os povos que aqui viveram nunca foram submissos, eles lutaram e ainda lutam. Quem deu o veredito que eles “aceitaram de bom grado” foram os senhores, filhos de Pedro Alvares Cabral. Houveram grandes e duradouras resistências, como a Mbya-Guaikuru. As mães reclamaram quando jesuítas e colonos tiraram seus filhos de seus braços para o trabalho. Pajé viu tudo, mas brasileiro, parece não ver nada.

Não me venha com essa que você, brasileiro, não tem descendência indígena! Nós todos somos um povo miscigenado, colorido e muito belo. Nós todos temos “um pé na casa grande, na senzala e na aldeia”. Todos esses são nossos ancestrais, seja nossa história sofrida ou não. Já assistiu o filme brasileiro “Desmundo”? Ele conta o período da colonização, com certos detalhes, e demonstra como surgiu a sociedade brasileira: um povo multiétnico.
 
 A justificativa de ter ou não descendência indígena não é o sufiente também, pois a maioria das tradições pagãs prezam a ancestralidade local. Explicando: Ancestralidade Local é o respeito pelos espíritos ancestrais daquele lugar ou região, com gostos, rostos e origens diferentes. No druidismo há três ancestralidades principais: sanguínea, espiritual e local. Ou seja, deve haver respeito e honra para todos os aspectos. Observo muitos rituais “pagãos brasileiros” que fazem sua abertura sem ao menos dizer “Olá, posso entrar?”. Você gostaria que alguém entrasse na sua casa sem avisar? Ou melhor, se você fosse um espírito, que viveu numa dada região e sofreu com a invasão de outros povos, que destruíram sua estrutura cultural, gostaria de ter novamente a mesma experiência no plano espiritual? É momento de exercer respeito com os povos nativos (e isso não é novidade).

Eu gosto de ver “pagão brasileiro” engajado em lutas pela defesa do indígena brasileiro. Acho lindo quando vejo em um ritual oferendas e palavras poéticas aos ancestrais da Terra. Creio ser muito válido chamar meus avós indígenas e curandeiros ancestrais para abençoar os meus passos. Amo as lendas nativas e sua sabedoria e gosto de pesquisar sobre. Se somente esperarmos que historiadores e antropólogos façam catálogos da cultura indígena, ela morrerá. É necessária a prática.


Após ler um livro sobre xamanismo, tenha certeza, você não se tornou um xamã. Lembre-se que na prática que se vê o xamã. Leia, informe-se, saiba sobre a cultura local. Vá a uma Aldeia, desmistifique a sua visão do “índio de livro didático”. Se puder e o xamã tiver essa permissão, deixe-se treinar por ele. Pode ser pouco o que ele tem a oferecer, mas é tudo, é sutil. Um xamã não diz toda a sua sabedoria, pois acredita que ela se desenvolve aos poucos no jovem aprendiz.

Não deseja estudar xamanismo? Você tem toda a liberdade, mas está preso ao respeito pela ancestralidade local. Ame e pratique de corpo e alma com sua parafernália norte-americana, calendário Maia que é Asteca, negócio da China, brumas de Avalon, entoação de Mantras e sal do Mediterrâneo. Entretanto, por favor, faça uma pequena pausa e diga antes de fazer o ritual: “Olá, tenho a permissão?”. Se o problema é não saber o nome, não há problema. Eles, os espíritos ancestrais da Terra, só querem ser reconhecidos por nós. Um simples gesto é uma oferta de coração. Vá aprimorando isso. 


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