quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Caça às Bruxas



Foi durante o século 12, porém, que se difundiu mais rapidamente a idéia do sabá, reunião noturna das sextas-feiras, à qual as bruxas compareciam voando em suas vassouras, cavalgando seus bodes, ou mesmo transformadas sob a forma de pássaros. Para que pudessem voar, as feiticeiras untavam o corpo com uma poção mágica por elas preparada; e na cerimônia, iniciada à meia-noite, entregavam-se a orgias e ao Demônio.
Somente em 1250 é que alguns bispos entregaram ao dominicano Étienne de Bourbon a primeira descrição do sabá. Oito anos depois iniciam-se os processos por feitiçaria, e só no ano de 1275, após várias condenações, uma primeira acusada é morta na fogueira. O próprio São Tomás de Aquino (1225-1274), expoente da escolástica, declarou ser possível a união carnal com Satanás. “Tudo o que acontece por via natural, o diabo pode imitar!”, afirmou.
Em 1318, o bispo de Cahors foi condenado à fogueira sob acusação de haver tramado magicamente contra o papa João XXII, por encantamento com boneco de cera, do qual a história tem relatos semelhantes desde 2500 a.C. O poeta Virgílio (70-19 a.C.) também fez referência à mesma prática. Em 1398 foi a vez da Universidade de Paris reforçar a tese da união sexual entre as bruxas e o Demônio, e em 1424 o monge Bernardino de Siena (1380-1444) pregou contra as artes mágicas em Roma. Em 1465, foi condenado à fogueira o prior da Ordem dos Servitas, dono de um bordel, acusado de oferecer súcubos (demô-nios sob a forma feminina) aos que visitavam sua casa de prazeres.
Até esse momento, no entanto, os processos só eventualmente levavam à pena capital. Embora houvesse campanhas da Igreja contra hereges e pagãos, nenhuma caça sistematizada às bruxas existia. Tanto é que, em 1474, os carmelitas, de seu púlpito, arriscavam-se a prever o futuro durante as missas, e o diziam fazer com auxílio dos demô- nios. Só com a reiterada insistência de dominicanos alemães é que o papa Inocêncio VIII, em 5 de dezembro de 1484, publicou a bula Summis Desiderantes Affectibus (“Desejando com Suma Ansiedade”), que espalharia o terror pelo continente:
“…tem chegado recentemente a nossos ouvidos que, em certas regiões da Alemanha setentrional [...] nas dioceses de Mainz, Colônia, Trier, Salzburgo e Brêmen, muitas pessoas de ambos os sexos, esquecendo-se de sua própria salvação e apartando-se da fé católica, têm mantido relações com os demônios [...] por meio de encantamentos, feitiços, conjuros e outras superstições malditas…”
O ‘Malleus’, código atroz contra as artes negras de magia, abriu as portas para o rolo compressor da santa histeria em que se transformou a Inquisição.”
Confirmada pelo imperador Maximiliano I, o papa designou para executar a bula, a começar pelo país reclamante, os monges Heinrich Institor e Jacob Sprengher. Este último, deão da Universidade de Colônia, publicaria dali a dois anos, com Heinrich Kramer, prior de Salzburgo, a mais importante obra sobre demonologia da história, o temível Malleus Malleficarum (“O Martelo das Bruxas”), fonte de inspiração para todos os tratados posteriores.
O “Malleus”, código atroz contra as artes negras de magia, mais do que a bula papal, peremptoriamente abriu as portas para o rolo compressor da santa histeria em que se transformou a Inquisição. Sua intenção era pôr em prática a ordem do Êxodo, 22;17: “A feiticeira, não a deixarás com vida.”
O Martelo das Bruxas dividia-se em três partes. A primeira ensinava aos juízes a reconhecer as bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes. A segunda expunha todos os tipos de malefí-cios, classificando-os e explicando-os. A terceira regrava as formalidades para agir “legalmente” contra as bruxas, demonstrando como inquiri-las para sempre condená-las.
O processo era cruel. Levava-se ao tribunal qualquer um que fosse suspeito de feitiçaria. Bastavam três testemunhas para que juntas servissem como “prova” dos autos. Os filhos podiam entregar seus pais; os cônjuges podiam delatar-se mutuamente. Por meio de tortura obtinham-se as confissões. Os réus eram ainda submetidos às provas ordálicas; nestas, qualquer mancha escura na pele do acusado serviria como prova do pacto com o Demônio. A insensibilidade à dor em qualquer parte do corpo também era indício de feitiçaria; ademais, os suspeitos eram amarrados em cruz sobre madeiras e atirados em algum rio. Se o acusado não afundasse, estava aí a prova de que o Diabo o protegia, razão pela qual era entregue à fogueira; caso se afogasse, estaria antecipada a justiça divina.
Extraíam-se assim as mais absurdas confissões, incluindo transformações dos envolvidos em cisnes negros, gatos ou lobos; também suas sevícias trocadas com Satanás.

Retirado do site Planeta na Web

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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Bruxaria e Inquisição



Ao contrário do que se pensa, o cristianismo não foi imediatamente adotado pelo povo europeu ao ser declarado religião oficial do Império Romano. Esta conversão dos Romanos ao catolicismo teve motivos políticos e não teve grande penetração fora dos centros urbanos. A grande massa da população permaneceu fiel a seus deuses antigos.

Os cultos antigos, então, receberam a denominação pejorativa de "pagãos" ("pagani", plural de paganu, 'morador do campo'), por ter como foco de resistência à nova religião o povo dos campos, longe das cidades e das zonas de comércio e ensino.


Os missionários cristãos, com o tempo, passaram a ter mais aceitação nas cidades, mas continuavam sendo repelidos no campo, nas montanhas e nas regiões distantes, verdadeiros enclaves da Antiga Religião. Houve ainda uma tentativa de reativar o paganismo e o culto aos Deuses antigos como religião oficial do Império Romano. Esta última esperança deveu-se ao Imperador Juliano (conhecido como "O Apóstata"), que reinou no séc. IV eC. (Século quatro da era comum). Mas, como sabemos, essa tentativa não foi frutífera, derrubada pela própria conjuntura da época, onde já se pressentia o poder de manipulação, domínio e intriga do cristianismo, evidenciado nos séculos seguintes.



Um dos ardis utilizados pelos cristãos era o de apropriar-se de festividades pagãs como comemorações religiosas de sua própria religião. Assim, por exemplo, o festival de inverno, onde se comemorava o nascimento do Deus-Sol, transformou-se no Natal cristão. Também o festival de Samhain, comemorado em intenção dos mortos, recebeu o nome de Dia de Todos os Santos, logo seguido pelo dia de Finados. A despeito destas tentativas, as tradições pagãs continuaram mantendo sua força.


A partir de um decreto do papa Gregório, os cristãos também se apossaram dos locais sagrados da Antiga Religião e derrubando os templos ali existentes, erigiram suas igrejas. Os Deuses de cada santuário foram transformados em santos e santas (um exemplo é Santa Brígida, da Irlanda, na verdade a Deusa Bhríd, protetora do fogo e dos partos). Quando os cristãos deram-se conta da importância da Deusa-Mãe para as pessoas, aumentaram a proeminência da Virgem Maria no culto cristão. Mitos e práticas pagãs foram, sistematicamente, absorvidas, distorcidas e transformadas em ritos cristãos. Esculturas de temas pagãos foram incluídas em igrejas e capelas. O maior exemplo de sincretismo entre costumes pagãos e cristãos é o cristianismo irlandês, que ainda hoje conserva hábitos antigos mesclados a liturgias cristãs. 


Os padres tinham a seu favor o tempo, o poder e a força. Os pagãos tinham que lutar sozinhos contra a profanação de seus templos, crenças e costumes. Desta maneira, o povo simples dos campos foi acostumando-se à nova religião, e, gradualmente, foi sendo convertido. Mas os sacerdotes restantes da Antiga Religião não se renderam à nova ordem. Juntamente com pessoas ainda fiéis às antigas crenças, mantiveram o culto.

As crenças pagãs, enfatizando a adoração aos Deuses e a realização dos festivais de fertilidade, foram amalgamando-se à magia popular. A magia popular consistia em um conjunto de feitiços feitos com o uso de ervas, bonecos e diversos outros meios. Estes feitiços tinham como objetivo a cura, a boa sorte, atrair amores, e fins menos nobres, como a morte de algum inimigo. São práticas desenvolvidas a partir do que restara da magia simpática pré-histórica, unidas ao conhecimento xamânico dos povos antigos. 
Os teólogos cristãos passaram então a sustentar que a Bruxaria não existia. Assim, pretendiam acabar com a credibilidade dos bruxos e anular sua influência. Foi um período de relativa paz para a Arte. Mas logo os cristãos perceberam que seus esforços para exterminar completamente o paganismo não haviam dado resultado. Fizeram então mais uma tentativa: transformaram o Deus de Chifres na personificação do Mal, do Antideus, do Inimigo.

A natureza dos Deuses pagãos é completamente diferente da do todo-poderoso "senhor de bondade" dos cristãos, são Deuses quase "humanos", pois têm características tanto 'boas' quanto 'más'. A teologia cristã já pressupunha a existência de um antagonista ao seu Jeová (o 'Satan' hebraico do Antigo Testamento e o 'diabolos' do Novo): um Inimigo. Ele ainda não possuía forma definida e, quando era representado, o era em forma de serpente, como a que persuadiu Adão a comer a fruta da Árvore da Sabedoria. Dando a seu Satã a forma do Deus de Chifres, notadamente de deuses agropastoris como Cernnunos ou então Pã e Sileno, dotados de cascos de bode e pequenos cornos, os cristãos conseguiram iniciar um clima de terror e medo em relação aos praticantes da Antiga Religião, o que os forçou a praticarem seus ritos em segredo.

Mas a era mais triste da Arte ainda estava por vir: 


A Era das Fogueiras.

 

A situação da Igreja até o século XIII era caótica, facções adversárias lutavam entre si, cada uma digladiando-se em favor de um dogma. Nos numerosos concílios realizados, ora uma das facções impunham sua visão, ora outra. Isso favorecia um desmoralizante 'entra-e-sai' de dogmas, o que desacreditava a Igreja. Algumas destas facções também criticavam a corrupção e o jogo de poder dentro da classe sacerdotal, e levantavam dúvidas sobre o poder espiritual do papado. Foi então criado um instrumento de repressão: o Tribunal de Santa Inquisição.
Consistia em um corpo investigatório ignorante, brutal e preconceituoso, dirigido pela ordem dos Dominicanos, sua função primordial era a de acabar com as facções que se opunham à Igreja (denominadas 'heréticas'), através do extermínio sistemático de seus membros, exemplos destas facções 'heréticas' eram os cátaros, os gnósticos e os templários.

Com o tempo, os cristãos perceberam outro uso para seu Tribunal. Ainda persistiam cultos aos Deuses Antigos e graças à imposição do Deus de Chifres como sendo o Demônio Cristão, aqueles que cultuavam os deuses antigos eram acusados de delitos absurdos, como o canibalismo, a destruição de lavouras (acusar de tal crime uma Religião dedicada à manutenção da fertilidade das colheitas é, no mínimo, ridículo) e muitos outros.

Foi então proclamada em 1484 pelo Papa Inocêncio VIII a Bula contra os Bruxos. Neste documento, ele relacionava os crimes atribuídos aos bruxos e dava plenos poderes à Inquisição para prender, torturar e punir todos aqueles que fossem suspeitos do 'crime de feitiçaria'.

Em 1486 foi publicado o Malleus Malleficarum ('Martelo dos Feiticeiros'), escrito pelos dominicanos Kramer e Sprenger. O livro, absurdo e misógino, era um manual de reconhecimento e caça aos bruxos, e, principalmente, às bruxas (o livro trazia afirmações surpreendentemente absurdas, como: "quando uma mulher pensa sozinha, pensa em malefícios").
A partir daí, a Igreja abandonou completamente a postura de ignorar a Bruxaria: pelo contrário, não acreditar na sua existência era considerada a maior das heresias. Iniciou-se então um período de duzentos anos de terror, conhecido entre os bruxos como "Era das Fogueiras". Mas os bruxos (e também os hereges e inocentes: doentes mentais, homossexuais, pessoas invejadas por poderosos, mulheres velhas e/ou solitárias) não pereciam só em fogueiras: eram também enforcados e esmagados sob pedras. Isso quando não pereciam nas torturas, as quais são tão cruéis e sádicas que não merecem nem ser mencionadas.
A Inquisição tornou-se uma válvula de escape para as neuroses da época: em época de forte repressão sexual, condenavam-se mulheres jovens, que eram despidas em frente a um grupo de 'investigadores', tinham todo seu corpo revistado diversas vezes, à procura de uma suposta 'marca do diabo', e, por fim, eram açoitadas, marcadas a ferro e violentadas. Terminavam condenadas e executadas como bruxas. Seu crime: serem mulheres jovens, belas e invejadas. Anciãs que moravam sozinhas, geralmente em companhia de alguns animais, como gatos (daí a lenda da ligação dos gatos com as bruxas), eram alvo de desconfiança e logo declaradas 'feiticeiras', e, assim, assassinadas.


A maioria das vítimas dos tribunais de Inquisição não eram verdadeiros praticantes da Arte, mas muitos bruxos pereceram na mão dos cristãos. Aproximadamente nove milhões de crimes como estes foram cometidos durante a Inquisição, ironicamente em nome de uma religião que se dizia 'de amor'. Nunca uma religião demonstrou tanta necessidade de exterminar seus antagonistas como o cristianismo.

A perseguição aos bruxos não se resumiu apenas aos países católicos: espalhou-se pela Europa protestante, os protestantes não se guiavam pelo Malleus Malleficarum, mas davam razão à sua paranóia através do uso de uma citação do Antigo Testamento: "não deixarás que nenhum adivinho viva" reescrita e adaptada para: “não deixarás que nenhum bruxo viva” para poder servir aos objetivos de incriminar os bruxos.

Na Era das Fogueiras, os praticantes da Antiga Religião adotaram o único comportamento que lhes possibilitaria a sobrevivência: "foram para o subterrâneo", ou seja, mantiveram o máximo de discrição e segredo possível. A sabedoria pagã só era passada por tradição oral, e somente entre membros da mesma família ou vizinhos da mesma aldeia. Como técnica de proteção, os próprios bruxos ajudaram a desacreditar sua imagem, sustentando que a Bruxaria não passava de lenda, ou disseminando idéias de bruxos como figuras cômicas e caricatas, dignas de pena e riso.

Por volta do final do século XVII, a perseguição aos bruxos foi diminuindo gradativamente, estando virtualmente extinta no século XVIII. A Bruxaria parecia, finalmente, ter morrido. Mas as linhagens familiares de Bruxos e os grupos de Bruxos resistiam escondidos nas sombras.

Algo que surgiu nos primórdios da humanidade não morreria assim tão facilmente.


Artigo originalmente escrito para instrução reservada de alunos.
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© 1993, Daniel Pellizzari  

(Obtido no 4shared) 

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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Em terreno selvagem






Pediram-me que falasse a vocês sobre a injustiça que tem sido cometida contra nós por alguns agentes do governo e grandes corporações.

Quantos de vocês já ouviram falar de motores alternativos motores que funcionam com qualquer coisa, de álcool, a lixo ou água. Ou carburadores que fazem dezenas de quilómetros com um litro. Ou de motores elétricos ou magnéticos que podem praticamente rodar para sempre. Não os conhecem porque se fossem usados levariam as companhias de petróleo à falência.

O conceito de
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