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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Deuses brasileiros

Panteão Indígena Brasileiro

Nhanderu e a roda dos mundos

Nhanderu também chamdo de Iamandu (o deus sol) cuja expressão é Tupã (trovão) junto com Araci tambem chamada iaci ou jaci (a deusa lua) são as duas primeiras entidades do Edhen a cruzar a barreira com paradísia na América do Sul num lugar descrito como um Monte na região do Aregúa (paraguai). E de lá criaram os animais, plantas da américa do sul e as primeiras criaturas místicas , iniciando o povoamento de paradía.

Nhenderu criou Rupave e Sypave em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal. Rupave e Sypave ("Pai dos povos" e "Mãe dos povos") tiveram três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo Guarani. O segundo filho foi Marangatu, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete montros legendários do mito Guarani. Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas e tirar vantagem delas. Ele eventualmente cometeu suicídio, afogando-se, mas foi ressucitado como um caranguejo, e desde então todos os caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.

Mito guarani da criação

A figura primária na maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu (ou Nhanderu ou Tupã), o deus Sol e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Araci, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, Paraguai, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento.



Tupã então criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos Guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.

Nhanderuvuçú é considerado Deus supremo na religião primitiva dos índios brasileiros.

Nhanderuvuçú não tem forma humana a chamada forma antropomórfica, é a energia que existe, sempre existiu e existirá para sempre, portanto Nhanderuvuçú existe mesmo antes de existir o Universo.

A única realidade que sempre existiu, existe e existirá para sempre é a energia a qual os índios brasileiros identificam como Nhanderuvuçú.

No princípio ele criou a alma, que na língua tupi-guarani diz-se "Anhang" ou "añã" a alma; "gwea" significa velho(a); portanto anhangüera "añã'gwea" significa alma antiga.

Nhanderuvuçú criou as duas almas e, das duas almas (+) e (-) surgiu "anhandeci" a matéria.

Depois ele disse para haver lagos, neblina, cerração e rios.

Para proteger tudo isso, ele criou Iara.

Nhanderuvuçú criou também Caaporã o protetor das matas por si só nascidas e protetor dos animais que vivem nas florestas, nos campos, nos rios, nos oceanos, enfim o protetor de todos os seres vivos.

Caaporã quando é evocado para proteger as plantas plantadas junto aos roçados dos índios é chamado por eles de forma carinhosa com o cognome de Ceci.

Caaporã em língua tupi-guarani significa "boca da mata "Caa = boca e Porã = mata"

Dizem as lendas que no meio dos animais protegidos por Caaporã apareceu mais um casal de animais.

A primeira mulher, Amaú (Sypave) e, o primeiro homem, Poronominare (Rupave).


Primeiros humanos

Os humanos originais criados por Tupã eram Rupave e Sypave, nomes que significam "Pai dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente. O par teve três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo Guarani. O segundo filho foi Marangatu, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete monstros legendários do mito Guarani (veja abaixo).

Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas e tirar vantagem delas. Ele eventualmente cometeu suicídio, afogando-se, mas foi ressuscitado como um caranguejo, e desde então todos os caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.

Entre as filhas de Rupave e Sypave estava Porâsý, notável por sacrificar sua própria vida para livrar o mundo de um dos sete monstros legendários, diminuindo seu poder (e portanto o poder do mal como um todo).

Crê-se que vários dos primeiros humanos ascenderam em suas mortes e se tornaram entidades menores.


Os sete monstros legendários

Kerana, a bela filha de Marangatu, foi capturada pela personificação ou espírito mau chamado Tau. Juntos eles tiveram sete filhos, que foram amaldiçoados pela grande deusa Arasy, e todos exceto um nasceram como monstros horríveis. Os sete são considerados figuras primárias na mitologia Guarani, e enquanto vários dos deuses menores ou até os humanos originais são esquecidos na tradição verbal de algumas áreas, estes sete são geralmente mantidos nas lendas. Alguns são acreditados até tempos modernos em áreas rurais. Os sete filhos de Tau e Kerana são, em ordem de nascimento:

1 - Teju Jagua, deus ou espírito das cavernas e frutas
2 - Mboi Tu'i, deus dos cursos de água e criaturas aquáticas
3 - Moñai, deus dos campos abertos. Ele foi derrotado pelo sacrifício de Porâsý
4 - Yacy Yateré, deus da sesta, único dos sete a não aparecer como monstro
5 - Kurupi, deus da sexualidade e fertilidade
6 - Ao Ao, deus dos montes e montanhas
7 - Luison, deus da morte e tudo relacionado a ela


O Mito: A criação da Noite

Nas Aldeias de todo o mundo, nas terras dos índios, era sempre dia. Nunca havia noite, estava sempre claro. Os homens não paravam de caçar, nem as mulheres de limpar, tecer e cozinhar. O sol ia do leste ao oeste e depois refazia o caminho, ia do oeste ao leste, seguindo assim.

Mas teve um dia que o caso mudou. Quando Tupã, aquele que controlava tudo, havia saído para caçar, um homem muito curioso tocou no frágil Sol para saber como funciona. Então o Sol que dava luz e calor havia se apagado, havia quebrado em mil pedacinhos. Então as trevas haviam reinado na aldeia.

Tupã não se conformou com tal atitude do homem, e o transformou em um novo animal, que tinha as mão douradas como o Sol que brilhava. E deu-se o nome àquele bicho de macaquinho-de-mão-d'ouro. Tupã então tratou de refazer o Sol. Mas ele só ia ao oeste e não conseguia voltar. Então criou assim a Lua e as estrelas para iluminarem a noite. E assim ia, o Sol ia até o poente, não voltava, e então vinha a Lua e as estrelas. Acabava a noite e o Sol voltava. mas o sol sempre sorrindo ia e um dia viu a lua orgulhoso do que fez

Enfim os índios Brasileiros adoram o que existe de fato, adoram somente o que é realmente real, os fenômenos naturais, o clima, a natureza, apenas as coisas reais. "A realidade é a única verdade em que podemos acreditar".

"Tupã-Cinunga" ou "o trovão", cujo reflexo luminoso é tupãberaba, ou relâmpago cuja voz se faz ouvir nas tempestades sua morada é o Sol.

Tupã representa um ato divino, é o sopro da vida, e o homem a flauta em pé, que ganha a vida com o fluxo que por ele passa."



O PANTEÃO

ANGATUPRI - Espírito ou personificação do bem

ANHANGÁ - Deus Infernal

ANHUM - Deus do Canto e da Música, neto de Tupã tocava Taré.

ARACI - Na mais longínqua e remota antiguidade, Itaquê, o mortal, amou a imortal Deusa Lua Jaci. Dessa união, nasceu Araci, que ao morrer, foi elevada aos céus por sua mãe, tornando-se a ninfa das manhãs e da aurora.

BOTO - Deus dos abismos dos mares, que governa os oceanos e habita a sagrada Loca, que é a habitação dos Deuses marinhos no fundo das águas.

COROACY - Deusa Solar ou a Mãe do Dia. Ela representa a primeira visão do Sol matinal.

CURUPIRA - Foi enviado para terra por Tupã para proteger os campos e florestas.

CY - A Mãe de Todos, a encarnação da Terra e de todos os ventres grávidos.

DEUSA ARANHA - Deusa tecelã da vida que trouxe nos fios de sua teia os Caiapós do espaço para habitar a Terra.

GUARACY - Deus Sol.

IAVU-RÊ-CUNHÃ - Duende da Mata dos Kamaiurá.

JACY - Deusa-Lua, a poderosa Mãe da Noite e Senhora dos Deuses. Tem duas formas: Jacy Omunhã (Lua Nova) e Jacy Icaua (Lua Cheia).

JURUTI - A Mãe dos rios.

KATXURÉU - Deusa da Morte dos indígenas.

MARA- Deusa das Trevas.

MULHER ARARA - Deusa Mãe que possui o poder de transformar-se tanto em pássaro como em mulher.

NAIÁ - Fada que habita a flor da planta conhecida por Vitória-Régia.

NETE BEKU - Deusa Mãe que ensinou aos Kaninawás sobre o uso dos vegetais.

NHARÁ - Deus do Inverno.

PÉDLERÉ - Deusa da Morte dos índios krahôs.

PÔLO - Deus do Vento e Mensageiro dos Deuses.

POMBERO - Um espírito popular de travessura

PYTAJOVÁI - Deus da guerra

RUDÁ - Deus do Amor, encarregado da fertilidade e da reprodução.

SETE ESTRELO - O Deus das Plêiades.

SUMÁ - Deusa da Ira, que envolta em uma manta negra de cipó chumbo, vagava pela terra, espalhando ódio e discórdia. Era uma Deusa Guerreira que orientava e protegia a agricultura. Uma lenda bem antiga, afirma ser ela filha legítima de Tupã e Jaci.

TAMBA-TAJÁ - Deus do Amor.

TAU - Deus/Espirito do Mau.

TATAMANHA - Deusa das Labaredas e das faíscas.

TICÊ - Esposa de Anhangá (Deus Infernal).

TIRIRICAS - Deusas da Raiva, do Ódio e da Vingança.

TOLORI - Deus da Tempestade e inimigo das mulheres.

TUPÃ - (que na língua tupi significa trovão) é uma entidade da mitologia tupi-guarani.

Os indígenas rezam a Nhanderuvuçu e seu mensageiro Tupã. Tupã não era exatamente um deus, mas sim uma manifestação de um deus na forma do som do trovão. É importante destacar esta confusão feita pelos jesuítas.Nhanderuete, "o liberador da palavra original", segundo a tradição mbyá, que é um dialeto da língua guarani, do tronco lingüístico tupi, seria algo mais próximo do que os catequizadores imaginavam.

Câmara Cascudo afirma que Tupã "é um trabalho de adaptação da catequese". Na verdade o conceito "Tupã" já existia: não como divindade, mas como conotativo para o som do trovão (Tu-pá, Tu-pã ou Tu-pana, golpe/baque estrondante), portanto, não passava de um efeito, cuja causa o índio desconhecia e, por isso mesmo, temia. Osvaldo Orico é da opinião de que os indígenas tinham noção da existência de uma Força, de um Deus superior a todos. Assim ele diz: "A despeito da singela idéia religiosa que os caracterizava, tinha noção de Ente Supremo, cuja voz se fazia ouvir nas tempestades – Tupã-cinunga, ou "o trovão", cujo reflexo luminoso era Tupãberaba, ou relâmpago. Os índios acreditavam ser o deus da criação, o deus da luz. Sua morada seria o sol

Para os indígenas, antes dos jesuítas os catequizarem, Tupã representava um ato divino, era o sopro, a vida, e o homem a flauta em pé, que ganha a vida com o fluxo que por ele passa.

UALAIMKÍPIA - Deusa-Pássaro da Morte equivalente a Deusa grega Hécate.

UIAPURU - O Deus do amor do mundo alado, o pássaro encantado considerado o orfeu amazônico.

VITÓRIA RÉGIA - Deusa-fada do reino vegetal.

XUNDARUÁ - Deusa Peixe-Boi padroeira da pesca e dos pescadores.

YARA - (também chamada de "Mãe das Águas"), segundo o Mitologia Índigena, é uma lindissima Sereia morena, de longos cabelos negros e olhos castanhos, que costuma banhar-se nos Rios e Cachoeiras, cantando uma Melodia de Beleza irresistível. Os homens que a vêem não conseguem resistir a seus desejos e pulam nas Águas, e ela então os leva para o fundo; quase sempre não voltam vivos. Os que voltam ficam loucos, e apenas uma benzedeira ou algum ritual realizado por um Pajé consegue curá-los. Os Índios têm tanto medo da Iara que procuram evitar os lagos ao entardecer.Iara antes de ser sereia era uma índia guerreira, a melhor de sua tribo. Seus irmãos ficaram com inveja de Iara pois ela só recebia elogios de seu pai que era pajé, e um dia eles resolveram tentar matá-la. De noite quando Iara estava dormindo seus irmãos entraram em sua cabana só que como Iara tinha a audição aguçada os ouviu e teve que matá-los para se defender, e com medo de seu pai fugiu. Seu pai propôs uma busca implacável por Iara. E conseguiram pegá-la, como punição Iara foi jogada bem no encontro do rio Negro e Solimões, os peixes a trouxeram a superfície e de noite a lua cheia a transformou em uma linda sereia, de longos cabelos negros e olhos castanhos.
Era o deus dos peixes. Era , segundo outros, a Sereia ou Mãe d'água, pois Y-Yára quer dizer - a que mora na água. A raça desses monstros marinhos chamavam de Y-Yára-ruoiara.

YANUBÊRI - Avó ancestral indígena muito poderosa.

YEBÁ BELÓ - A Avó do Universo.
“Yebá Beló fez a si mesma a partir de utensílios invisíveis e pensava em como deveria criar o mundo. Ainda não havia luz, Yebá então criou três trovões, do primeiro fez surgir Emeko, um ser invisível, do segundo Emeko criou o Sol e com poder concedido por Yebá Beló criou o homem. Do último trovão Emeko criou os animais. Yebá formou ainda a terra, com sementes do seu seio esquerdo e adubando com leite do seio direito. A criação se dá por completo, quando dois índios, Curu e Rairu, enviados por Tupã, estendem uma corda e puxam pessoas por um buraco na terra, dando início a povoação do mundo”

YUSHÃ KURU - Deusa feiticeira ou curandeira que ensinou os xamãs kaxinawás a curar. Conhecida também como a Fêmea Roxa, deu muitos conselhos e surgiram os remédios. Uns eram venenos para matar: olho forte, Beru Paepa. Mijo amargo, Isü Muka. Outro para coceira, Nui. A velha Fêmea Roxa observava bem as folhas e os pés das árvores: ─ Esse mato não é remédio forte.

E assim foi... Surgiram muitos remédios, todos os remédios que têm na mata. Remédio bom que cura as pessoas. Bom para picada de cobra, picada de escorpião, aranha, reumatismo e fígado.A Fêmea Roxa,
Yushã Kuru, conhecia bem todas as folhas desses remédios.

Depois não ensinava vira mais ninguém. Usava todos esses remédios sempre escondida de todo mundo. Até que um dia, a velha Fêmea começou a ensinar para neto dela, o tubo de sua filha. Ensinava a ele todos os remédios da mata que sabia. Ensinava também como preparar estes remédios. Também ensinava o remédio forte e venenoso para colocar feitiçono outro. E experimentava com ele para saber se ele tinha aprendido tudo que sua avó sabia.
Aprendeu a preparar o veneno para botar feitiço no outro. E, as vezes, com mato venenoso, tirar o espírito da pessoa.Quando a mulher moça ou o homem rapaz crescia bonito, ela botava feitiço. Quando o homem era trabalhador, a mulher fazia artesanato e quando esculhambava com a velha Fêmea Roxa ela também botava feitiço para essas pessoas morrerem.
Na aldeia, o povo nau sabia o que a Fêmea Roxa fazia. Passou muito tempo sem ninguém perceber a situação.

...
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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Belenus

Na mitologia céltica, Belenus (também conhecido como Belenos) foi uma deidade cultuada na Gália, Britânia e nas áreas célticas da Áustria e Espanha. Foi o deus do Sol celta e tinha templos em Aquiléia do Adriático a Kirkby Lonsdale na Inglaterra.

A etimologia do nome é obscura. Sugestões incluem "brilhante único," "o único luminoso" e deus "henbane".

Ele pode ser a mesma deidade que Belatu-Cadros. No período do Império Romano era identificado com Apolo. Existem correntemente 51 inscrições conhecidas dedicadas a Belenus, concentradas principalmente na Aquiléia e na Gália Cisalpina, mas também se estendem à Gália Narbonense, a Noricum e mais além. Imagens de Belenus às vezes o mostram estando acompanhado de uma fêmea, imaginada como a deidade gaulesa Belisama.

Na Gália e Britânia antiga, Apolo pode ter se igualado a quinze ou mais diferentes nomes célticos e epítetos (notavelmente Grannos, Borvo, Maponus, Moritasgus e outros).

Outras identificações propostas

A deidade-ancestral galesa Beli Mawr pode ser derivada de Belenus, embora seu personagem e atributos sejam diferentes. O festival irlandês de Beltane também pode estar conectado, ou pode derivar da mesma raiz celta, *bel-, "brilhante". A figura mítica irlandesa Bile ("árvore sagrada") está às vezes ligada a Belenus.

O rei lendário Belinus na História dos Reis da Britânia de Geoffrey of Monmouth é provavelmente também derivado deste deus. O nome do antigo rei britânico Cunobelinus significa "cão de caça de Belenus".

Variante de nomes

# Belanu, entre os Ligurianos
# Belanos
# Belemnus
# Belenos
# Belenus
# Beli
# Belinos
# Belinu
# Belinus
# Bellinus
# Belus

Asterix

Invocações freqüentes são feitas deste nome por personagens gauleses na história em quadrinhos Asterix de Goscinny e Uderzo. Asterix e o profeta começa com uma piada sobre o vasto número de pessoas no panteão gaulês que são diariamente invocadas. Veja também Toutatis.



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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A compreensão dos xamans


O mal-entendido neoxamânico pode ser gigantesco

Agradecimentos ao administrador do blog Cronistas Indígenas, que gentilmente permitiu a publicação desse excelente texto em nosso blog. O original se encontra nesse link.
Pelo Dr. Jacques Mabit
Traduzido do francês para o português por José Pimenta**

“Xamanismo amazônico” / “estudantes ocidentais”. A justaposição destes dois termos mergulharia sem dúvida os nossos antepassados na perplexidade, mas se tornaram familiares para nós. No entanto, de acordo com um especialista, a nossa confiança tranquila esconde um equívoco perigoso. Não se atravessa ingenuamente os milênios que separam a modernidade da magia pré-histórica! O alarme é ainda mais justificado por vir de um terapeuta que não temeu pela sua reputação, saindo do caminho seguro para ir ao encontro apaixonado de “curandeiros” da selva. Amigo de Jeremy Narby ou Jan Kounen, ele vê o turismo xamânico com um olhar preocupado. Há mais de dez anos, o Dr. Jacques Mabit organiza estágios para ocidentais com xamãs da Amazônia peruana. No início, sua ação se concentrava nos viciados em drogas, para os quais a “visita “mágica” à sua interioridade. paradoxalmente, os livraria da droga. Mas, aos poucos, o “neoxamanismo” virou moda e o centro Takiwasi (O pássaro que canta) aceitou abrir suas portas a um público cada vez maior. Hoje, Jacques Mabit faz um balanço e seu discurso é mais que ambivalente. Segundo ele, muita ingenuidade, uma impaciência infantil, hábitos aconchegantes e uma longa ruptura com a natureza e o corpo selvagens e, acima de tudo, uma ignorância estúpida e generalizada da dimensão simbólica verdadeiramente vivida, associada com a hipertrofia do ego, fazem do encontro entre ocidentais e xamãs, mais frequentemente do que poderíamos pensar, um mercado de ilusões. E como o objeto do mal-entendido não é nada mais que o despertar da consciência, a ilusão pode rapidamente se transformar num labirinto assustador. A seguir, partes de um artigo do Dr. Jacques Mabit publicados no verão de 2005 na revista Synodies.


A onda xamânica

No pequeno refúgio da Alta Amazônia onde eu moro há quase vinte anos, assisto a ondas crescentes de ocidentais sedentos para entrar em contato com as práticas das medicinas tradicionais amazônicas. Como eu fui um dos iniciadores desse movimento, não posso deixar de hesitar entre a satisfação e o pavor diante desse entusiasmo para o que agora se convencionou chamar pelo nome de “xamanismo”, inadequado do ponto de vista antropológico. (...)

Assistimos atualmente a uma chegada maciça de cidadãos de países do Norte nos cantos mais isolados das florestas, das montanhas e dos desertos do Peru, e de outros lugares, para encontrar ali o “xamã” ainda “virgem” que irá conciliá-los consigo mesmo. As coisas também se complicam desde que o movimento inverso se iniciou, ou seja, com a ida de “xamãs” para Europa, sem falar de brancos que se apresentam como iniciados, capazes de substituir os mestres indígenas. (...).

Ora, o universo simbólico de uns e dos outros é totalmente distinto e é justamente essa maneira específica de apreender o vivido interior que será colocada em jogo durante as experiências xamânicas, como por exemplo com a ayahuasca. Corremos portanto um forte risco, se o nosso viajante ocidental não tiver um mínimo de conhecimento do universo simbólico de sua própria cultura (o que se tornou a regra) de confundir charlatães com grandes mestres e visões pessoais com revelações universais. E a capacidade de autoilusão é tanta que diante da expectativa colocada e dos investimentos envolvidos no processo, o interessado não se importa de ser advertido de sua inocência porque pensa ouvir do seu “mestre”, que ele agora faz parte dos “iniciados”. A questão que se coloca portanto é: um ocidental pode apreender a experiência xamânica de modo a tirar dela um beneficio real e não contribuir à degradação acelerada dessas práticas nas sociedades tradicionais?


Quando o Senhor Dupont reencontra um xamã indígena. 

Nós sabemos que somos fisicamente incapazes de suportar até mesmo uma fração da experiência real de um xamã amazônico. Mas nossas fantasias de afinidade se alimentam de outras coisas. Assim, um ocidental pensa ver no xamã um homem que fez um longo trabalho sobre ele mesmo e que venceu seus demônios interiores: uma mistura de “bom selvagem” de Rousseau e de “sábio” oriental. Mas um índio pode se tornar um especialista no uso de forças invisíveis da natureza (notadamente humana) sem ter feito qualquer trabalho sobre si, tendo essencialmente acumulado no seu corpo as armas energéticas necessárias para o combate. 

No mundo tribal, extremamente estruturado e hierarquizado, a sobrevivência do grupo tem prioridade sobre o indivíduo e a lei de talião (“olho por olho”) deve constantemente reequilibrar a relação com o outro, cujo disfuncionamento explica todos os males. Enquanto isso, o nosso fundo ocidental greco-judaico-cristão nos pede para fazer do outro um irmão e não um inimigo, o indivíduo representando a nossa maior meta.

Podemos ter que lidar com um grande feiticeiro, um homem poderoso, mas que não controla em nada seus impulsos egóticos. A maior parte dos xamãs são temidos por seus próximos por causa desse poder de inversão agressiva que é sempre possível (...). É por isso que muitos jovens recusam o aprendizado xamânico, para não se expor a “serem odiados por toda a vida” (...)

Diante deste mundo de feitiçaria extremamente ativo, vários ocidentais acreditam estarem protegidos pelo fato de “não acreditarem”. Eles ririam se um índio lhes dissesse que estariam protegidos de um vírus ou de uma bactéria por não acreditarem nisso! (...)


O ângulo cego do cérebro direito 

Da mesma forma que os ocidentais têm desenvolvido de maneira extraordinária as funções psíquicas do lado esquerdo do cérebro, os grupos étnicos da Amazônia são especialistas na utilização das funções psíquicas do lado direito do cérebro que, no nosso caso, é subutilizado. Podemos comparar a nossa ignorância sobre esse assunto à ignorância de um índio amazônico médio em física quântica ou em filosofia germânica. 

Um grande xamã pode se mostrar incapaz de expressar suas experiências em sequências lógicas. Por outro lado, quantos grandes cientistas ocidentais são inaptos para gerenciar sua vida emocional ou interpretar seus sonhos?

Os xamãs desenvolveram técnicas sofisticadas para a gestão de energias - processo de materialização-desmaterialização, de domínio do humor dos sujeitos, de indução de pensamento através dos sonhos, etc. Essas funções, que escapam à nossa formação ocidental, integram o espaço inconsciente da nossa psyché. Sua manipulação é ainda mais eficiente em nós por não sabermos de sua existência. Assim, existe uma arte xamânica de sedução altamente desenvolvida, que pode ter objetivos sexuais, mas não só, e que afeta muitos “turistas xamânicos” sem que eles percebam (...).


Alargamento da consciência ou inflação do ego? 

O mal-entendido também acontece quanto à finalidade da abordagem xamânica. O Ocidental quer compreender racionalmente para satisfazer sua inquietação e encontrar a paz, que é principalmente a de sua mente perturbada. Para um habitante da Amazônia, a angústia essencial diz respeito ao seu equilíbrio com a natureza e o mundo invisível, sua capacidade de trabalho físico para manter sua autossuficiência, sua sobrevivência. Se o seu corpo é purificado, ele sabe, então, que sua cabeça funcionará melhor, que ele terá sonhos, que os espíritos se aproximarão... Para o Ocidental, é a ausência de visão que é geradora de frustração porque é isso que ele espera: ele ignora que, para a maior parte das etnias amazônicas, tomar ayahuasca é secundário em comparação com a ingestão das preparações vegetais purgativas! Quando um índio toma ayahuasca, o xamã pergunta-lhe, sobretudo, se as plantas vomitivas tiveram efeito, porque é a purificação física que atesta o sucesso da bebida. (...).

De modo mais geral, mesmo num contexto ideal, com um xamã correto, a ausência de preparação para a entrada num universo simbólico pode levar a sérios problemas. Para o índio na sua tribo, a bagagem cultural transmitida desde a infância fornece uma compreensão das experiências xamânicas: uma cosmogonia, interpretações coletivas, lendas, mitos, histórias familiares ou clânicas que lhe possibilitam situar automaticamente o seu vivido em relação a si mesmo e ao seu universo de referência. Ao contrário, o empobrecimento simbólico da educação racional ocidental, o reducionismo do mito científico e a dessacralização das práticas culturais produzem cidadãos desprovidos de referências claras do mundo interior, assim como de qualquer dimensão transcendental. E o desaparecimento dos ritos de passagem “constrói” uma massa de adultos que não nasceram psiquicamente e permanecem trancados num mundo materno no qual as funções psíquicas masculinas são excluídas e se tornam inacessíveis. No ocidental, os processos de reificação são uma tentação permanente, objetivando o que é da ordem do simbólico. O simbolismo entre nós se esvaziou de sua substância. Ele não desempenha mais nenhuma função operante e se transformou na imagem refletida da virtualidade informática. Por exemplo, várias feministas se sentem ofendidas pelo fato de, segundo os curadores, uma mulher não poder tomar ayahuasca quando está menstruada. Elas interpretam esse fato como um vestígio machista de tribos primitivas ou então pela via de uma leitura psicanalítica em torno da questão do desejo. Procuram, portanto, transgredir essa recomendação muito importante, que diz respeito concretamente ao fato de que as emanações do sangue menstrual proíbem momentaneamente, no plano energético, as viagens interiores.


Quanto ao ego, com sua pretensão de ser todo poderoso, abraça prontamente as experiências xamânicas procurando se apropriar delas. Quantos ocidentais que tomam ayahuasca e visualizam a energia em suas mãos pensam imediatamente que são chamados para se tornar curandeiros ou que já eram sem mesmo saber? (...)

Teriam ainda outros elementos culturais para desenvolver, elementos que caracterizam o mundo tribal e que são fontes de incompreensão entre índios e ocidentais. Assim, a “sinceridade” ocidental será quase sempre percebida por um índio como uma agressão, e (por sua vez) sua impossibilidade cultural em dizer “não” será vista como uma hipocrisia por um visitante ocidental. Como fazer entender em poucas palavras que a amizade entre um homem e uma mulher não existe no contexto tribal? Uma europeia bem intencionada, que aceita amavelmente o gesto de um índio, na realidade, significa para este que está disponível sexualmente. 


As portas da reconciliação

Dizer que “cada um possui um xamã dentro de si” nos parece no melhor dos casos uma piada, ou, no pior, uma mentira. As vocações são raras e também existem poucas pessoas que têm um “Mozart ou um Modigliani dentro de si”. Enquanto são necessários anos de formação para se tornar um técnico especializado, ficamos surpreendidos quando sabemos que podemos nos tornar xamã e dominar os estados de consciência após alguns finais de semana de formação no bosque de Fonteinebleau! Muitos estágios ditos xamânicos propostos no contexto new age fazem uso, na realidade, de técnicas de relaxamento, de sonho acordado, de indução hipnótica, etc. Só têm de xamânico o nome (...).

A iniciação é um processo lento e longo que exige a integração das experiências em diversos níveis (físico, psíquico, emocional, espiritual) e no qual um ocidental não pode ignorar a sua própria cultura. Mais que uma fuga para um outro mundo, trata-se de reintegrar suas próprias raízes e de se reconciliar consigo mesmo e com seus ancestrais, o que, no nosso caso, significa se reapropriar também do fundamento cultural judaico-cristão. O desvio para uma cultura ancestral pode se provar sensato com a condição de estarmos preparados para voltar “pra casa”. Além disso, a aquisição prévia ou simultânea de uma formação que tenha uma dimensão de ajuda ou uma profissão que inclui uma dimensão terapêutica me parece essencial. A experiência xamânica deve ser preparada antes, ser conduzida dentro de um dispositivo simbólico de contenção e, por fim, ser seguida por etapas ulteriores de integração do vivido. Ela exige, portanto, um espaço específico. 

Com essas condições, o Espírito que sopra onde quer e quando quer, poderá inspirar vocações terapêuticas, que se enraízam em culturas diferentes mas que falam do Homem eterno.

Publicado na Revues Synodies “Le transpersonnel?”, verão 2005, Ed. GRETT (Groupe de Recherche en Thérapies Transpersonnelles). 
* Originalmente publicado em: http://www.inspir.be/?page_id=2792

** O ProfDr José Pimenta é antropólogo, 
professor na UnB e possui um longo histórico
 de pesquisa e vivência junto ao 
povo Ashaninka do Alto Juruá, no Acre.

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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Lenda da cobra grande (ou Boiúna)

A Lenda da Cobra grande é uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico que
fala de uma imensa cobra, também chamada Boiúna, que cresce de forma gigantesca e ameaçadora, abandonando a floresta e passando a habitar a parte profunda dos rios. Ao rastejar pela terra firme, os sulcos que deixa se transformam nos igarapés. Conta a lenda que a cobra-grande pode se transformar em embarcações ou outros seres. Aparece em numerosos contos indígenas. Tem sido tema para nossa música, poesia e folclore.



A Lenda

Há muito tempo, existiu em uma das tribo do Amazonas, uma mulher muito perversa que inclusive, devorava crianças. Para por fim a tantas dores causadas por ela, a tribo decidiu atirá-la no rio, pensando que ela morreria afogada e nunca mais viesse a perseguir ninguém. Porém, Anhangá, o gênio do mal, decidiu não deixá-la morrer e casou-se com ela, dando-lhe um filho. O pai transformou o menino em uma cobra, para que ele pudesse viver dentro do rio. Porém, logo a cobra começou a crescer e crescer...

O rio tornou-se pequeno para abrigá-la e os peixes iam desaparecendo devorados por ela. Durante a noite seus olhos iluminavam como dois faróis e vagavam fosforescentes por sobre os rios e as praias, espreitando a caça e os homens, para devorá-los. As tribos aterrorizadas, deram-lhe o nome de Cobra Grande.

Um dia a mãe da Cobra Grande morreu. Sua dor manifestou-se por um ódio tão mortal que de seus olhos brotavam flechas de fogo

Também se conta que em certa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna, deu à luz a duas crianças gêmeas. Uma delas, um menino, recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Mas a Índia não queria as crianças e para ficar livre dos filhos, ela jogou as duas crianças no rio. Entretanto as crianças não morreram, e conseguiram sobreviver e se criaram. Honorato não fazia nenhum mal, mas sua irmã tinha uma personalidade muito perversa. Causava sérios prejuízos aos outros animais e também às pessoas.

Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas maldades. Segundo muitas pessoas narram, Honorato em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo e elegante rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal na terra.

Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita audácia para derramar leite na boca da enorme cobra e fazendo um ferimento na cabeça dela até sair sangue. Porém ninguém tinha coragem de enfrentar a enorme cobra. Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato do terrível encanto, e ele deixou de ser cobra d'água para viver na terra como um homem e com sua família.


Histórico:

A boiúna, de mboi, "cobra" e una, "negra", também conhecida como boiaçu, de mboi e açu, "grande", ou ainda cobra-grande é, segundo Câmara Cascudo, o mais poderoso e complexo dos mitos amazônicos, exercendo ampla influência nas populações às margens do rio Amazonas e seus afluentes.

Faz parte do ciclo dos mitos d'água, de que a cobra é um dos símbolos mais antigos e universais. Senhora dos elementos, a cobra-grande tinha poderes cosmogônicos, explicando a origem de animais, aves, peixes, o dia e a noite. Mágica, irresistível, polimórfica, aterradora, a cobra-grande tem, a princípio, a forma de uma sucuri ou uma jibóia comum. Com o tempo, adquire grande volume, abandona a floresta e vai para o rio. Os sulcos que deixa à sua passagem transformam-se em igarapés. Habita a parte mais funda do rio, os poções, aparecendo vez por outra na superície. É descrita como tendo de 20 metros a 45 metros.

Martius (Viagem pelo Brasil) registrou a força assombrosa do medo que os indígenas tinham do monstro, com as dimensões multiplicadas pelo terror. Chamavam-no de Mãe-d'água e Mãe-do-rio, mas as histórias só mencinavam a voracidade da cobra-grande, arrebatando crianças e adultos que se banhavam. Recusavam-se a matar a cobra, porque então era certa a própria ruína, bem como de toda a tribo.

Esse registro, de 1819, denuncia a existência de um outro mito entrevisto e anotado por Barbosa Rodrigues (Poranduba Amazonense), o da constelação do Serpentário (Ofiúco), que aparece no céu em setembro, o tempo das roças, princípio do tempo de Coaraci, o Sol. Couto de Magalhães ouviu a lenda de como a noite apareceu, numa época em que não havia noite, e a filha de Cobra-grande pediu a noite ao pai como presente de casamento.

Há ocasião em que nenhum pescador se atreve a sair para o rio à noite, pois duas vezes seguidas foi avistada uma Cobra-grande... pelos olhos que alumiavam como tochas. Os pescadores foram perseguidos até a praia, somente escapando porque o corpo muito grande encalhou na areia. Esses pescadores ficaram doentes de pânico e medo da experiência que relatavam com real emoção. (Eduardo Galvão, Santos e Visagens, Brasiliana, São Paulo, 1955).


Mais Lendas da Boiúna

Em Belém, há uma velha crença de que existe uma cobra-grande adormecida embaixo de parte da cidade, cuja cabeça estaria sob o altar-mor da Basílica de Nazaré e o final da cauda debaixo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outros já dizem que a tal cobra-grande está com a cabeça debaixo da Igreja da Sé, a Catedral Metropolitana de Belém, e sua cauda debaixo da Basílica de Nazaré: é o percurso da tradicional procissão do Círio de Nazaré, com 3,3 quilômetros de extensão. Os mais antigos dizem que se algum dia a cobra acordar ou mesmo tentar se mexer, a cidade toda poderá desabar. Por isso, em 1970 quando houve um tremor de terra na capital paraense, dizia-se que a tal cobra havia se mexido. Os mais folclóricos iam mais longe: "imagine se ela se acorda e tenta sair de lá!". 
Fonte: Jornal "A Crítica",

Manaus, AM

Em Roraima, conta-se que Cunhã Poranga ("índia bela") apaixonou-se pelo rio Branco e, por isso, Muiraquitã ficou com ciúme. Para se vingar, Muiraquitã transformou a bela índia na imensa cobra que todos passaram a chamar de Boiúna. Como ela tinha um bom coração, passou a ter a função de proteger as águas de seu amado rio Branco. 

Entre as populações que habitam as margens dos rios Solimões e Negro, no Amazonas, acredita-se que quando uma mulher engravida de uma visagem, a criança fruto desse terrível cruzamento está predestinada a ser uma cobra-grande.
Há quem acredite que a cobra-grande pode nascer de um ovo de mutum. 

Segundo uma lenda mais comum no Acre, uma cobra-grande se transforma numa bela morena nas noites de luar do mês de junho, para seduzir os homens durante os arraiais de festas juninas, como se fosse a versão feminina do boto. 

O folclorista Walcyr Monteiro conta que em Barcarena (PA) existe o lugar conhecido como "Buraco da Cobra-Grande", atração turística do local. 

Misabel Pedrosa diz que a Cobra-grande mora debaixo do cemitério do Pacoval, na ilha de Marajó.


Cobra-grande como navio encantado

Arte de Paulo Felipe M. Olimpo
Ticuna - O Livro das Árvores. 1997
Aparece sob diferentes aspectos. Ora como cobra preta, grande, de olhos luminosos como dois faróis, ora como embarcação a vapor ou a vela. Eduardo Galvão cofirma ter a Cobra-grande se tornado navio encantado. O poeta Raul Bopp assim interpretou a cobra-grande:

- Axi, cumpadre
arrepare uma coisa:

lá vem um navio
vem-que-vem-vindo depressa, todo alumiado.
Parece feito de prata...
- Aquilo não é navio, cumpadre
- Mas os mastros e as luises... e o casco dourado?...

Alguns contam que a cobra grande pode algumas vezes parecer um navio para assustar os ribeirinhos. Refletindo o luar, suas enormes escamas parecem lâmpadas de um navio todo iluminado. Mas quando o "navio" chega mais perto é possível ver que na verdade é uma cobra grande querendo dar o bote.


A cobra de Fawcett

O coronel britânico Percy Harrison Fawcett, explorador que realizou sete expedições na Amazônia de 1906 a 1925, relatou ter visto cobras gigantescas, ou seus indícios. Em um de seus diários, ele anotou, em 1907: "Estávamos calmamente seguindo a corrente preguiçosa, não longe da confluência do Rio Negro, quando quase sob o arco da igara apareceu uma cabeça triangular e vários pés de corpo ondulante. Era uma sucuri gigante. Corri para meu rifle enquanto a criatura fazia seu caminho rumo ao banco de areia e, quase sem esperar para mirar, disparei uma bala de ponta macia calibre .44 em sua espinha, dez pés (3 metros), abaixo da maldita cabeça."

O barco parou para que o coronel pudesse examinar o corpo. A despeito de ter sido mortalmente ferida, "convulsões subiam e desciam pelo corpo como golpes de vento em um lago de montanha." Embora não tivessem equipamentos para medições com ele, Fawcett estimou que a serpente tinha 19 metros de comprimento e 30 cm de diâmetro.

Nos pântanos de Madre de Diós, em Bení, Bolívia, Fawcett disse ter visto rastros de uma cobra que indicavam um comprimento de 24 metros.

Fontes: 
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

As Bruxas da Ilha de Santa Catarina



Este ano de 1963 verificaram-se três casos de morte de crianças, por artes das bruxas, na cidade de Florianópolis e no interior da ilha de Santa Catarina. A conselho de benzedeiras e milagreiras, os pais das pequeninas vítimas prepararam as armadilhas tradicionais, mas somente uma das bruxas foi apanhada.

Quem são essas estranhas criaturas?

Crédito da imagem: Viviane Torres Curth. Obtido via web, clique na imagem para acessar o blog da artista

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Os entendidos dizem que, se um casal tem seguidamente sete filhas, a mais velha ou a mais moça delas está predestinada a transformar-se em bruxa, em especial se as meninas são feias, esqueléticas, de nariz adunco e de hábitos mais ou menos estranhos. Há um modo de evitá-lo. À medida que as meninas vão nascendo os pais fazem com que as irmãs mais velhas batizem as mais môças, dando-lhes o nome de Benta; e, após o batismo, despem as crianças e administram-lhes uma colherinha de vinho virgem, vestindo-as em seguida com a mesma roupa, mas pelo avesso, até o galo preto cantar. Parece, porém, que tal cautela tem sido pouco observada – ou não haveria tantas bruxas a assombrar a ilha.

As bruxas costumam aparecer, com mais freqüência, na Ponta da Feiticeira, no distrito dos Ingleses, onde em certas noites se pode ver um facho de fogo errante a passar sobre as casas do lugar; mas também foram localizados em Santo Antonio de Lisboa, Pântano do Sul, Ponte das Canas, Lagoa da Conceição, Rio Tavares, Morro das Pedras, Ribeirão da Ilha e Barra do Sul.

Em meio a gargalhadas estridentes e sinistras as bruxas divertem-se nos pastos, ora dando nós nos rabos e crinas dos cavalos (nós que seriam indesatáveis), ora chupando-lhes o sangue, ora obrigando-os a galopar as tontas; nas encruzilhadas dos caminhos às vezes transformadas em mulas oferecendo montaria aos viajantes incautos, ou na forma de galinhas chocas; na praia soltam as canoas dos pescadores, enleiam-lhes o espinhel, sujam-lhes as velas; em casa aboletam-se no encosto dos bancos e cadeiras pondo os pés sujos de lama e de fezes no assento para sujar as roupas das pessoas de família; e em geral atiram pedras, torrões de barro (barro de cemitério) junta de cobra e matérias fecais sobre coisas, animais e pessoas.

Quando há figueiras e carvalhos na redondeza, reúnem-se em concílio sobre as suas ramagens para treinar as novas bruxas ou para combinar as travessuras da noite, mas o seu ponto preferido de reunião às quintas e sextas-feiras a horas mortas, são casas abandonadas ou mau assombradas.


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Nesses dias as bruxas despem-se, escondem as roupas sob folhas de mato em touças de bananeira ou sob os paneiros das canoas dos pescadores, esfregam no corpo unto virgem e pronunciam as palavras mágicas:

"Por cima do silvado

e por baixo do telhado"
a que algumas vezes acrescentam:
"formada em bicho mandado."

Estão aptas então a toda sorte de estripulias. Locomovem-se em lanchas baleeiras, canoas bordadas e de borda lisa, lombo de cavalo, carro de boi, vassoura, - e nem sempre limitam as suas andanças à ilha, largando-se pelo mundo a visitar países em todos os continentes.
O encanto dura algumas horas a partir da Ave Maria marcadas pelos sucessivos cantos de aviso do galo branco, do galo amarelo e do galo preto. Se o canto do galo preto as surpreender ainda a cumprir o fado, as bruxas não poderão voltar novamente a forma humana.


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Os habitantes da ilha conhecem um esconjuro contra as bruxas,

"Bruxa

Tatarabruxa

Aguilhão nos teus pés

e antolhos nos teus olhos

Tu não me entras aqui nesta casa

nem nesta comarca toda

Em nome de Deus e da Virgem Maria,

Amém"

mas alguns deles, não tão crédulos no simples poder das palavras, quando as pressentem se valem de vários contra para mantê-las à distancia: desenham a cruz do sino Saimão na porta da casa; despem a roupa e vestem-na pelo avesso; põem uma faca entre os dentes com o corte para fora... Acredita-se que o sino Saimão prenda a bruxa no local.
Uma defesa permanente é o breve em que se reúnem um pedacinho de madeira com a cruz do sino Saimão, um pedacinho de esporão de galo preto, um pouco de pó da gema de um ovo da Sexta-Feira Santa, um pedaço da unha de gato preto e três grãos de mostarda.


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A aparência das bruxas apavora e terrifica.

Pessoas que com elas tiveram contato dizem que são feias como os sete pecados, que os seus olhos chispam fogo e que nas mãos engelhadas empunham fachos de luz de cores diversas, que sacodem no ar numa chuva de faíscas.

Uma bruxa que costumava ficar ao leme de uma lancha que toda semana furtava na praia tinha o corpo coberto de escamas negras e as unhas das mãos semelhavam pontas de lança, os cabelos compridos caiam pela pôpa sobre o mar deixando no rastro um fogo de ardênia, nos olhos chamejavam dois feixes de luz e os pés eram como patas de mula...

Crédito da imagem: Obtido via web: Guia Floripa, clique para acessar.

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A bruxa adora chupar o sangue das criancinhas.

Os pais se precaveem contra essa possibilidade pondo ao pescoço da criança um rosário de nove dentes de alho e queimando a palha das liláceas no interior da casa, para afugentar as bruxas.

Não há dúvida de que se trata de bruxedo quando uma criança de menos de um ano, ao adoecer apresenta o cabelo acarneirado, o corpo coberto de manchas roxas e mesmo sangrando em alguns pontos, e se mantém de mãos cruzadas sobre o peito (as vezes também os pés cruzados) desatando num choro que mete dó ao anoitecer, principalmente as sextas-feiras. Em geral quando a misteriosa moléstia chega a esse ponto os pais já recorreram ao médico da localidade sem que os seus remédios tenham surtido efeito visível. Vendo a criança definhar os pais chamam alguma benzedeira ou milagreira conhecida na redondeza; Esta ao chegar à casa confirma, se ficar confusa ou se se puser a bocejar incontidamente, que alguma bruxa está exercendo a sua ação maléfica sobre a criança.

Para penetrar em casa e chupar o sangue dos pequeninos as bruxas afinam e alongam o corpo de maneira a passar pelo buraco da fechadura.

A benzedeira ou milagreira persigna-se e aconselha para obter a cura do doente, ou tratamentos mágicos se o caso parece de menor importância, ou alguma das armadilhas tradicionais poderosas para desencorajar e desmascarar as bruxas, nos casos mais graves.


Tratamentos:
1)        Faz-se um cozimento com cisco de três marés com mo qual se banha a criança. Após o banho dão-se-lhe três colherinhas do cozimento para beber. O tratamento deve continuar durante nove sextas-feiras. (Em certas épocas o mar avançando pela praia, deixa em três dias sucessivos, camadas de detritos, cisco, a pequena distancia uma da outra. Um pouco do detrito de cada qual dessas camadas forma o cisco das três marés, ingrediente usado para este tratamento mágico).

2)        Uma variante do anterior: Faz um cozimento com ciscos das encruzilhadas e com ele se dá um banho na criança, fazendo a beber em seguida, três colherinhas do líquido. Os entendidos dizem que o remédio se mistura com o sangue da vítima, o que enjoa as bruxas, que dela desistem.

3)        Apanha-se uma pedra numa coivara e faz-se uma fogueira em torno dela até que a pedra fique em brasa; atira-se a pedra numa vasilha com água virgem da fonte, quando a água se torna tépida retira-se a pedra e dá-se um banho na criança, administrando-lhe em seguida três colherinhas da água. A pedra depois de usada deve ser reposta no mesmo local. Durante nove sextas-feiras deve se repetir o tratamento utilizando de cada vez uma pedra diferente.


Armadilhas:
1)        O pai toma a primeira camisa usada pela criança, criva-a de agulhas, coloca-a dentro de um pilão de chumbar café e com a mão de pilão soca-a até que as agulhas penetrem na madeira do pilão, ou seja, no corpo da bruxa, que não podendo resistir a dor, vai procurar a família para confessar-se culpada e perde o encanto.

2)        Põe-se uma ceroula do pai, disposta em cruz, sobre a criança; Reza-se o creio-em-deus-padre de trás para diante; Sobre a mesa ou numa cadeira coloca-se um pires com água benta conseguida na igreja, ou comum apanhada na fonte numa sexta-feira antes do nascer do sol, dentro do pires um bocado de cera virgem e a chave da porta principal; Os pais devem fica acordados e atentos no escuro, quando a criança chorar (sinal de que a bruxa está a chupar-lhe o sangue), os pais devem, com a cera virgem, tapar o buraco da fechadura; Basta aguardar então o desencanto da bruxa, que se dará exatamente quando o galo preto cantar.

3)        Dentro de um baú de folha-de-flandres acende-se uma vela benta; reza-se o creio-em-deus-padre de trás para diante sobre a chama da vela e abaixa-se a tampa do baú de tal modo que o ar possa nele penetrar mantendo viva a chama. Com a casa as escuras todas as chaves devem ser retiradas das portas e colocadas em cima do baú; Quando a criança chorar os pais apanham as chaves de cima do baú, introduzem-nas nos buracos das fechaduras e acendem as luzes; Presa a bruxa, coagida pela oração e pela vela benta, tenta fechar o baú, e ao sentar-se em cima dele, perde o encanto.

4)        Uma variante da anterior: Num meio alqueire de medir farinha, junto a cama da criança, acende-se uma vela benta sobre a qual se reza o creio-em-deus-padre de trás para diante; A casa deve ficar as escuras com todas as chaves sobre o meio alqueire; Quando a criança chorar os pais apanham as chaves, introduzem-nas nas fechaduras e acendem as luzes; A bruxa, sentindo-se presa, procurará sentar-se sobre o meio alqueire, com o que se desencantará.

5)        Põe-se uma tesoura, aberta em cruz, numa mesa próxima ao berço da criança; As chaves das portas devem estar num pires com água benta; A casa estará as escuras; Quando a criança chorar os pais introduzem as chaves nas fechaduras e acendem as luzes; A bruxa, que tem horror a tesouras abertas, perde o encanto.

6)        Cozem-se folhas de Guiné, cordão-de-frade, limoeiro e arruda, nove dentes de alho e um pouco de mostarda; Com esse cozimento dá-se um banho na criança; Todos os irmãos e todas as pessoas da família residentes na casa devem lavar os pés na mesma água até chegar a vez do pai, que reza o creio-em-deus-padre de trás para diante sobre a vasilha; Fecha-se então a porta deixando-se a chave em falso, quase a cair pela parte de dentro; Põe-se a vasilha com água do cozimento abaixo da fechadura; Para penetrar na casa a bruxa deverá empurrar a chave, que cairá dentro da vasilha fazendo com que ela se desencante. Esta armadilha deverá ser preparada às sextas-feiras à hora da ave-maria.

Se estas armadilhas mais simples não dão resultado – há bruxas mais sabidas e mais experientes do que as outras, que não se deixam apanhar com facilidade – preparam-se outras mais fortes e mais terríveis, não apenas para desmascarar, mas também para revidar de algum modo, os poderes maléficos das bruxas, como as duas seguintes:

7)        Num prato com água perto da cama da criança, põem-se nove dentes de alho numa sexta-feira a hora da ave-maria, rezando-se o creio-em-deus-padre de trás pra diante; Uma faca bem afiada deve estar sob a cama do doente; Retiram-se todas as chaves das portas para que a bruxa possa entrar; Quando a criança chorar, dá-se-lhe uma colherinha da água que está no prato e corta-se com a faca um pedacinho da ponta de uma fita vermelha comprida, que surgirá descendo da cumeeira da casa em direção a boca da criança; Guarda-se o pedaço da fita sem nada dizer a ninguém. Uma estória corrente, relativa a esta armadilha, conta que o pedacinho da fita vermelha se transformou no bolso do pai, numa orelha humana – a orelha da bruxa, que desse modo pôde ser identificada.

8)        A hora da ave-maria numa sexta-feira, põe-se numa mesa próxima a cama da criança, um copo de cachaça sobre uma carta (usada) de baralho com um cigarro de palha de fumo de corda forte e uma faca afiada e pontiaguda, faz-se uma cruz sobre a mesa, reza-se o creio-em-deus-padre de trás pra diante; Quando a criança chorar retira-se o copo de cima da carta de baralho, apanha-se a faca e com ela se golpeia ou decepa qualquer parte de um bicho que aparecerá nas bordas do copo ou em cima do cigarro ou da carta de baralho. Uma estória referente a esta armadilha conta que o pai, tendo cortado a pata de uma rã que se equilibrava na borda do copo, viu-a transformada em dedos humanos – os dedos da bruxa que chupava o sangue do seu filho.

Nesses dois últimos tipos de armadilha, no dia seguinte corre a notícia de que uma mulher da vizinhança foi acidentada; O pai que deve manter o maior sigilo terá de procurá-la para que a armadilha dê o esperado resultado – a transformação mágica, em partes do corpo, das coisas que conseguiu arrancar à bruxa quando esta cumpria o seu triste destino.

Sempre que preparam uma armadilha os pais devem estar prevenidos com um rabo de tatu conservado no fumeiro da cozinha, para quando a bruxa reassumir a forma humana, aplicar-lhe uma boa surra até fazer sangue; Para reforçar a quebra do encanto as feridas da bruxa devem ser lavadas em salmoura – sal, pimenta e alho ou sal, cachaça e vinagre.


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As bruxas, poder maléfico solto sobre o mundo, são a maldade pela maldade sem endereço nem predileções, não há possibilidade de alguém as induzir a perseguir esta ou aquela pessoa e nem mesmo os parentes e os amigos estão livres de suas travessuras ou das suas crueldades.

Para a população em geral, são elas as responsáveis diretas, tanto por boa parte dos acontecimentos sem explicação plausível como por apreciável percentagem da mortalidade infantil (130,2 por mil nascidos vivos em 1957) registrada na ilha de santa Catarina.
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