quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O poder dos Yukin e do Xaman

Do blog da Sí-Raven 
 
O poder dos yuxin, que se revela por sua capacidade de transformação, é chamado muka. 

Muka é uma qualidade xamânica, às vezes concretizada como substância. O ser com muka tem o poder espiritual de matar e curar sem usar força física ou veneno (remédio: dau). O ser humano pode receber muka dos yuxin, o que lhe abre o caminho para se tornar xamã, pajé, mukaya. 

Mukaya significa homem com muka, ou na tradução de Deshayes “pris par l’amer” (‘pego pelo amargo’). O xamã tem um papel ativo no processo de acumulação de poder e conhecimento espiritual, mas sua iniciação acontecerá somente a partir da iniciativa dos yuxin. Se os yuxin não o escolhem, não o pegam, pouco adiantam seus passeios solitários na mata. Uma vez pego porém, o aprendiz torna-se doente aos olhos dos humanos (“ficam doidos quando chega mulher perto”). 

O ponto fraco do yuxin é o corpo, o do homem é seu yuxin; a “yuxindade” ameaça o corpo do homem, e o corpo, o sangue (feminino) ameaça a cabeça dos yuxin. Se o homem que foi pego quiser seguir o caminho de mukaya, ele se submete a jejuns prolongados e severos (sama) e procura outro mukaya para instruí-lo.

Outra característica do xamanismo kaxinawá, expressa pelo nome mukaya, está na oposição entre o amargo (muka) e o doce (bata). Os kaxinawá distinguem dois tipos de remédio (dau): os remédios doces (dau bata) são folhas da mata, certas secreções e animais e os adornos corporais; os remédios amargos (dau muka) são os poderes invisíveis dos espíritos e do mukaya.
 
A especialidade de huni dauya (homem com remédio doce, ervatário) normalmente não se combina com a de huni mukaya (xamã). O processo de aprendizagem do ervatário é bem diferente do xamã. Se não lidar com folhas venenosas o ervatário não é sujeito a jejuns e pode desenvolver suas atividades normais de caça e vida conjugal. Ele adquire seu conhecimento através da aprendizagem com o outro especialista e precisa de uma memória e percepção agudas.

O primeiro sinal de que alguém possui a potência para ser um xamã, uma desenvolvida relação com o mundo dos yuxin, é o fracasso na caça. O xamã desenvolve uma familiaridade tão grande com o universo animal (ou com os yuxin dos animais), conseguindo estabelecer diálogo com eles, que não consegue mais matá-los: “e anda no mato, bicho está falando comigo, disse. Quando vê o veado, aí chama ‘hei meu cunhado’, disse, aí ficava parado. Quando vem porco, ‘ah’, chamava, ‘ah, meu tio’, aí fica. Aí em nossa palavra disse ‘em txai huaí!’(‘Hei, cunhado!’), aí não come”.

Sendo assim, o xamã não come carne, e não somente por motivos emocionais. A impossibilidade de comer carne também está ligada ao muka, à mudança no olfato e no paladar da pessoa com muka amadurecido no seu coração. O gosto e o cheiro da carne tornam-se amargos.


Elsje Maria Lagrou
Antropóloga, professora da UFRJ
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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Definindo Bruxos

O texto a seguir é a melhor definição de Bruxos que já li, é de autoria da amiga AnkhNuit a quem respeito imensamente, e foi aqui publicado sob autorização. Aproveitem, este artigo ensina muito.

É Beltaine. A Luz, o Calor e "os Fogos" de Bel fazem-se sentir por toda a parte num ressurgir gradativo de vida que se manifesta nos mais diversos níveis. É o tempo da Luz que promove a eclosão de idéias novas e claras até então armazenados nos silos herméticos dos nossos corações.

É o tempo do Fogo que faz brotar labaredas de compreensão na alma.

É o tempo de expôr os porquês das nossas experiências.  

É o tempo de verbalizar o que aprendemos com Morrigan na "dor" do Samhain escuro e frio que nos fere de morte para que aprendamos a valorizar a vida; dor que só compreendemos na pureza do amor de Briga, a "Exaltada" e "Luminosa", que é a sabedoria que inspira e promove a cura das nossas feridas espirituais no Imbolc - o tempo de cumprir a promessa do alimento divino que trará novamente o alento de vida, a força e a luz que promovem o manifestar da centelha sagrada. E eis que chega Beltaine para que a sagrada centelha possa então ressuscitar agora mais convicta e invicta. Essas são reflexões de experiências palpáveis, vívidas e vivenciadas em cada roda que se completa em Lughnasadh.

Experiências que estão marcadas com o fogo sagrado da Forja dos Deuses no nosso coração. E que temos sobre nossa vulnerabilidade e falibilidade porém quanto maior o número de rodas vivenciadas mais certeza e é justamente essa certeza que nos dá força, coragem, fé e determinação impelindo-nos para uma batalha diária, incansável e incessante, pela busca do conhecimento que nos fará vislumbrar os mais tênues e quase imperceptíveis alvores daquilo que é a Sabedoria, uma qualidade que muitos almejam mas pouquíssimos já alcançaram. Diante de tais constatações, como peregrina convicta e ardentemente empenhada na minha busca interminável pergunto-me:

Quais requisitos devem ser considerados por quem se propõe a seguir o caminho da Bruxaria?
O que é, ou quem é um bruxo?
E então exponho o tão pouco ou quase nada que aprendi nestes anos de Caminho:

- Um Bruxo sabe que cada dia é um novo dia e, por mais rotineiro que sejam os seus afazeres, nada do que ele faz hoje é igual ao que ele fêz ontem;

- Um Bruxo é consciente de que nasceu para empenhar-se em algo que não vai transformá-lo numa estrela hollywoodiana, mas que esse algo por menor que possa parecer, é bastante grande dentro do contexto da Teia Cósmica;

- Um Bruxo sabe que não é, nunca foi e nunca será mal-amado porque está sempre conectado com a espiritualidade a quem ele ama e por quem é amado, não têm razão alguma para se revoltar com nada (por acaso um BRUXO não tem consciência que por detrás de cada "paulada que toma no meio da cara" existe uma lição a ser aprendida?), desconhece a necessidade de ser mimado porque não se permite ser manipulado, que as ditas "fases ruins" são os testes tão necessários à sua evolução e que não existe ninguém mentalmente perfeito;

- Um Bruxo sabe que a Solidão é a sua maior e melhor Conselheira (porque ele tem consciência de que quando está só de pessoas materiais ele pode se comunicar com as pedras, as árvores, os pássaros, os animais, com os elementos, com seus mentores, seus ancestrais e até consigo mesmo;

 - Um Bruxo sabe que pai e mãe não são eternos, que filhos crescem e vão viver suas vidas e que os amigos têm os seus problemas particulares para resolver como qualquer outro mortal inclusive como ele mesmo;

- Um Bruxo sabe que não precisa dar satisfações dos seus atos à ninguém porque todos colhem exatamente o que plantam e isso nem os deuses podem mudar;

- Um Bruxo está se "lixando" se alguém vai chorar a sua morte simplesmente porque um Bruxo não acredita na Morte e, sempre que pode, ensina para aqueles que ele ama que a morte é uma ilusão pois somos seres eternos;

- Um Bruxo não tem último desejo e nem quer que os que o amam de verdade sintam saudade da sua presença depois da sua morte;

- Um Bruxo não busca PODER. Busca SABEDORIA. Porque um BRUXO sabe que com Sabedoria ele consegue tudo o que PRECISA.

- Um bruxo sabe que nunca terá o que QUER mas sim o que realmente NECESSITA. 

- Um Bruxo sabe que ele jamais vai encontrar o que procura mas sim o que precisa realmente encontrar para torná-lo SÁBIO E LIVRE.

- Um Bruxo não inveja o seu semelhante porque ele sabe que a cada um é dado de acordo com a sua necessidade mas se ele é mesmo um BRUXO vai ter força e coragem suficientes para lutar e vencer pois aos olhos dos deuses a injustiça não é, nunca foi e nunca será agradável.

- Um Bruxo não enfrenta dificuldades, enfrenta DESAFIOS.

- Um Bruxo não desacata os seus deuses. Espera que com o tempo e com a sua reforma interior ele venha a compreender porque os deuses exigem mais dele que dos outros.

- Um Bruxo não faz inimigos porque já tem consciência que ele mesmo é o seu maior inimigo. 

- Ninguém tira nada de um Bruxo. Para um Bruxo conceitos como maldade e bondade precisam ser substituídos por "ignorância" e "conhecimento" respectivamente.

- Um Bruxo nunca é um Desgraçado (muito pelo contrário: são as pessoas que mais recebem bênçãos).

- Um Bruxo NUNCA perde a esperança e, muito menos, permite que arranquem-na do seu coração.

- Um Bruxo não permite brigas e desfaz os desentendimentos mesmo antes deles se manifestarem.

- Um Bruxo nunca carrega a negritude na Alma.

Quem não se enquadra nestes padrões sequer deve ter o direito de proclamar-se BRUXO.

Estou total e completamente aberta às vossas ponderações sobre o que acabei de escrever.

Um bruxo para ser realmente BRUXO precisa ter Humildade para ouvir críticas sem sentir-se ofendido porque só se é realmente BRUXO quando já se aprendeu a dominar completamente o EGO.

Bênçãos de Bel!

AnkhNuit em 16/11/2005

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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Palavras de um Xamã

Cordiais agradecimentos a minha amiga Sí-Raven do blog "Mensagens do Corvo"

“Na minha tradição, a gente costuma dizer que a tristeza é a perda do poder pessoal. Esse poder é interno, é o poder do ser, da alma. Infelizmente, o homem passou a acreditar que tudo que ele precisa só pode ser encontrado no outro ou no mundo externo. 

É como se a afirmação da vida dependesse única e exclusivamente da atenção do outro, de uma situação política, histórica ou de um bom posicionamento social e profissional. Ele está totalmente voltado para fora, buscando de uma forma insana a sua felicidade. É preciso inverter esse movimento, retornando à imensa força que está esquecida dentro de nós.

A causa verdadeira das grandes tristezas está na alma, no ser interno. E onde que esse ser interno encontra vida, beleza e força? Ele basicamente necessita perceber que ele próprio é muito maior que o seu momento, ele é parte de um grande complexo chamado vida e esse grande complexo se nutre de coisas essenciais e simples como uma respiração saudável, um nascer e um pôr-do-sol, uma noite enluarada, estrelada, essa imensidão que se encontra dentro de nós. E esse alimento leva para o homem ingredientes que vão determinar uma maior ou menor qualidade dos seus pensamentos, emoções e ações. Temos que ser responsáveis por tudo isso.  

A meta de todo ser humano deveria ser a conquista de um pensamento lúcido, emoções equilibradas e uma ação justa: esse é um homem feliz. Esse é o princípio da espiritualidade, o seu eixo. E com esse eixo você combate a tristeza e as dificuldades com tranqüilidade e vai superá-las, transformando a si próprio. Na verdade, o poder de cura está dentro de cada um. Nós somos, ao mesmo tempo, o veneno e o antídoto. Nós, pajés, não somos a cura. Somos um veículo capacitado para restituir ao doente a sua própria força de cura.

A grande doença da atualidade é a doença da alma. O ser humano esqueceu da sua alma, está adormecido e conseqüentemente se fechou para as forças da natureza, porque alma e natureza caminham estritamente juntas, são mãe e filha. Todo o desequilíbrio que nós temos hoje manifestado está nesse eixo, e é por isso que a grande questão do século XXI é a questão ecológica-espiritual. Uma não pode ser trabalhada sem a outra.
Uma doença é uma poluição interna, uma poluição do seu ar. Logo, do seu pensamento; Ou uma poluição das suas águas. Logo, de suas emoções. Ou uma poluição do seu fogo, que é a sua vontade interna, seu eu. E finalmente, é uma poluição da sua terra, que é seu corpo físico. 

É nesse sentido que a questão da cultura indígena surge nestes tempos para ser percebida de uma outra maneira, inédita, com toda a força da base espiritual que ela pode fornecer, para que finalmente possamos fundar uma nação. (...) Uma nação se funda a partir de raízes, e as nossas mais profundas raízes passam por essa rica tradição espiritual do povo indígena.” 


Pajé Kaká Werá 
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domingo, 18 de novembro de 2012

Por que nos dizemos Bruxos e Bruxas?

Por: Nuvem que Passa

O termo bruxaria é um termo que sempre desperta reações. Ele está tão associado a coisas "escuras e maléficas" que algumas pessoas questionam se deviamos mesmo usar este termo para identificar estas práticas pagãs de que fazemos uso, como instrumental de nossa ligação com os Deuses.
 
Mas voltemos ao passado, vamos voltar ao tempo em que mulheres e homens diferentes, que incomodavam os poderes estabelecidos, eram cruelmente torturados.
 
Poucos percebem que a tortura, para confessar bruxaria, era uma tortura similar a que os serviços secretos ainda usam hoje, para extrair informações sobre as reais práticas dos que eram depois sacrificados a fogueira, num ritual necromante, para imprimir na anima mundi, na alma do mundo, um medo à magia, ao conhecimento dos povos naturais. 
 
O saber dos povos naturais foi progressivamente sendo destruído por um conluio de forças que tem uma de suas principais forças começando a atuar no pacto nefasto de Júlio César e seus asseclas com Cleópatra e seu clero, quando os conhecimentos passaram a ser sistematicamente perseguidos e um simulacro de religião foi criada, com nitida função de criar servos, de dominar.
 
Os exércitos de guerreiros iam se tornando mercenários brutais e os sacerdotes iam se tornando mercadores de almas.
 
Júlio César destrói a biblioteca de Alexandria e então mais tarde, o Império Romano assume a religião cristã, isto é, cria uma versão da religião cristã para si, e com as armas, a vocação das legiões ainda em sua egrégora, sai a destruir Cátaros, Albigineses e depois cruzadas rumo ao Oriente, guerras de conquista, a invasão destas terras brasilis e de todo o continente, a escravização ou massacre de populações nativas tanto aqui como na África.
 
Fomos doutrinados para crer que o saber dos povos nativos é inferior, selvagem, supersticioso, que só a gloriosa tradição do positivismo vinda dos conquistadores é válida.
 
Essa prisão já foi imposta no próprio continente de onde vem os conquistadores, ali já perseguiram e julgam ter destruído todos os elos do saber dos povos nativos que ali também viveram.
 
Julgam que o racionalismo venceu e o saber místico e mágico foi erradicado.
 
Rindo disso, em menires, em lugares sagrados, dentro de capelas e igrejas que os conquistadores construíram em cima de lugares de poder, herdeiros e herdeiras desse Saber Ancestral continuam ritualizando e ao ritualizarem reatualizam o mito.
 
Então a Era-Industrial, os paradigmas da Era-Industrial tomam os povos, as cidades crescem, as pessoas vão perdendo o elo com os campos, com a natureza. Poucos se lembram que é o ouro arrancado de Hy Brasil, sob a vergasta do conquistador, com o sangue dos escravos índios e africanos, que migra de Portugal para a Inglaterra e faz acontecer a Revolução Industrial.
 
O mundo muda, os paradigmas mudam, o povo natural é ainda mais desprezado e seu saber relegado a condição de superstição grosseira.
 
O orgulhoso materialismo positivista arrogantemente pretende dizer o que é real e o que não é. Onde devia dizer "não entendo", ou "sequer percebo" dizem "não existe".
 
Campos, pagus, pagãos, povos dos campos, em sintonia com a vida, com a natureza. Tais valores passam a ser tido como menores, sinal de atraso.
 
Urbes, cidades, povos urbanos, isolados da natureza, mas ainda dela dependem. O povo da cidade é tido por culto, intelectualizado.
 
O mundo passa a ser dividido em nações "desenvolvidas", "industrializadas" e nações "subdesenvolvidas", "não industrializadas" .
 
O preço dessa "revolução industrial " é visível hoje na destruição da camada de ozônio, na extinção de espécies animais e vegetais, num caos social que gera violência e tensão em várias escalas.
 
Lhes pergunto: Teria acontecido uma revolução industrial como essa, em povos com a ligação plena da Terra como os nativos?
 
A Revolução Industrial aconteceu na forma que ocorreu porque a Vida e a Terra foram coisificados. pessoas se tornaram "mão de obra" e a Natureza "fonte de matéria prima".
 
E cá estamos neste caos ecológico e social tremendo, que combinados com as potentes armas que existem podem exterminar toda a vida sobre a Terra.
 
É total ilusão acreditar que o modelo da revolução industrial é o único modelo possível de desenvolvimento tecnológico.
 
Os Bruxos e Bruxas foram mortos, seu saber perseguido e quase extinto porque falavam de uma realidade viva, de uma natureza viva e consciente e assim, os caminhos que propunham eram caminhos onde a tecnologia viria na forma de uma tecnologia branda, não agressiva ao meio ambiente, onde os seres humanos continuassem a desenvolver um estilo de vida que não fosse o dos escravos e senhores, perpetuados em diferentes formas na presente organização social.

A guerra entre conquistadores e povos nativos sempre foi uma guerra pelo controle da realidade.
 
Os povos nativos em sua quase totalidade optam por abordagens harmônicas e empáticas com a natureza, enquanto os povos conquistadores estão sempre preocupados com seu poder e subjugação de outros, pouco percebendo o que acontece a sua volta além de seus interesses, tendo sempre atitudes desarmônicas.
 
A partir dos valores dos povos nativos, hoje usando mesmo alguns dos conhecimentos oriundos desta civilização tecnológica que aí está, podemos criar uma outra realidade, onde o mundo pode continuar seu fluxo, sem necessitar deste modelo de destruiçao progressiva que hoje domina.
 
Utopia?
 
Não, magia!
 
Outros povos desenvolveram outros estilos tecnológicos, Maias, Anasazi e outros povos que migraram para outras condições da Realidade quando do ínicio das crises neste mundo, desenvolveram estilos de tecnologia que hoje fazem parte do chamado "fenômeno ufológico".
 
Nós ficamos presos nesta senzala, que é a pretensa realidade, mas outros povos migraram para outras condições da realidade, outros mundos e dimensões e ali continuaram seu ciclo evolutivo.
 
Nos visitam quando os conquistadores de plantão cochilam.
 
Estamos entrando na Era Pós Industrial.
 
Touraine, Toffler, Domenico de Masi, são muitos os que abordam este fato, que a Era Industrial fica para trás como um parenteses num caminho que liga os paradigmas da nova fase histórica com os da chamada "primeira onda" de Toffler, valores como busca de uma produção orgânica, valorização do sentir e da intuição tanto quanto do pensamento sistematizado, enfim valores ecológicos , voltam a ser respeitados e considerados vitais para a sobrevivência saudável do ser humano, pois basta um olhar crítico sobre o mundo para perceber que a sociedade que vivemos não é saudável.
 
E o suporte filosófico e místico não vem de religiões dogmáticas que foram usadas através do tempo para dominar as pessoas, onde culpa, medo e insegurança são estimulados nos (as) "seguidores".
 
O paganismo, a religião da Terra, o religar-se à Terra enquanto ser vivo e consciente é um caminho que leva à magia e a vida.
 
Em homenagem sincera a tantas mulheres valorosas, homens corajosos, que entregaram suas vidas às chamas, que resistiram a tortura mas nada revelaram dos segredos, em homenagem a estes heróis e heroinas que com seu sacrificio salvaram outros para que a tradição continuasse nós nos chamamos bruxos e bruxas.
 
Porque hoje podemos, nós seus herdeiros(as) espirituais, dançar em praça pública, dizermo-nos publicamente pagãos (ãs) e sentir que uma nova fase da História se aproxima, por isso nos dizemos bruxos e bruxas.
 
E podemos ver além da confusão que os que sabem que vão perder o poder estão criando para que não percebamos o sol da primavera retornando, porque temem a verdade, a constatação esta civilização construida no gelo da ganância e egoísmo, ruirá por si.
 
Os que fizeram seus impérios e suas armas de poder no gelo da realidade vazia e estéril que criaram temem que redescubramos a magia, pois o calor da magia os ameaça pela sua simples existência.
 
Por isso nos chamamos Bruxos e Bruxas, por isso temos caldeirões e colheres de pau, pilões, vassouras e outros instrumentos que usamos para tecer nossas magias, porque nestes simples ato deixamos nossa condição isolada e nos irmanamos em vasta corrente que além do tempo e espaço conectada está com os Deuses. 

Pois em cada ato mágico, em cada rito que ritualizamos uma onda de energia vence tempo e espaço e toca nossos antepassados espirituais enquanto ardem na fogueira dos conquistadores, com nossa magia viva hoje lhes dizemos:
 
- "Coragem, venceremos!"
 


Guerrero/ Nuvem que passa

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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Os Poderes do Morcego

A MAGIA DA NATUREZA

Pássaro e demônio, amigo e feiticeiro, fantasma e deus tribal, ele é apenas um mamífero alado.

OS PODERES DO MORCEGO

O Morcego é um animal com asas de aspecto de couro e de aparência hedionda, uma criatura das sombras infernais. Uma espécie – o morcego-vampiro – é notório sugador de sangue. As  características físicas do morcego e sua habilidade aparentemente sobrenatural de perseguir suas vítimas na escuridão completa são largamente responsáveis pela reputação aterradora, que adquiriu através dos séculos, como uma criatura de poderes ocultos.

O Morcego assumiu algumas qualidades de dois símbolos: o pássaro (símbolo da alma), e o demônio (criatura das sombras) e tem sido representado no folclore como feiticeiro e amigo, como fantasma e diabo, e ocasionalmente, como deus tribal.

Os chineses, preferindo uma posição mais amena em relação ao morcego, afirmam que ele voa com a cabeça baixa por causa do peso de seu cérebro. Êsopo descreve o vôo noturno como tentativa de fugir  de seus credores. Mas na maior parte do mundo, o morcego é tido como uma criatura horrível , misterioso ente da noite, símbolo da morte para os irlandeses, fantasma para os índios da Colúmbia Britânica e a corporificação dos mortos para os negros da Costa do Marfim.

Uma criatura da escuridão, o morcego há muito vem sendo associado ao diabo, numa forma de horror que é difícil afastar, mesmo entre os civilizados.
 
Na Europa, Ásia e América, o aparecimento repentino de um morcego numa casa é predição da morte de um de seus ocupantes. Na China, contudo, o morcego simboliza uma vida longa e cheia de êxitos.

Na Idade Média, era indiscutível a crença de que o diabo constantemente assumia a forma de um morcego e, por causa disso, ainda hoje, os camponeses da Sicília queimam os morcegos vivos ou os pregam de asas esticadas, em suas portas.

Espírito maligno em nosso corpo

Espíritos malignos em forma de morcegos, segundo se acreditava, podiam entrar em nosso corpo: e só era possível expulsá-los com a ação de exorcistas consagrados. 

Os curandeiros-feiticeiros da Nigéria, que são grandes cultores dessa arte, habilmente retiram morcegos e sapos pela boca do paciente, por acaso atacado por esses males. 

Entre os negros dos Estados Sulinos dos Estados Unidos, maus espíritos são arrancados do corpo humano e injetados no corpo de morcegos, que fogem para o vale das sombras com sua carga macabra.

Na obra Remaines of Denis Granville, há uma anedota que descreve o seguinte: um cirurgião, um assistente e um padre atendem a um paciente, profundamente atacado de melancolia. Enquanto o padre reza, o cirurgião faz uma pequena incisão no lado do paciente e, ao mesmo tempo o assistente liberta o morcego que havia trazido numa caixa escondida. O paciente acredita que o mau espírito foi arrancado de seu corpo e sara. No Brasil essa anedota tem uma continuação: “meses mais tarde o cirurgião explica ao paciente que tudo fora uma encenação, porque notaram que o seu mal era psíquico e não físico”. Aí o paciente começa a ficar de novo doente, dizendo: “Por isso é que eu ainda sinto o morcego voar dentro de mim”.

La Voisin, a feiticeira e aborticionista do século 17 na França, usava sangue de morcego para suas missas negras. Uma coisa hedionda encontrada as vezes em rituais dessa natureza era um morcego que havia sido afogado em sangue, recurso usado para libertar energia psíquica. E o sangue de morcego era constantemente mencionado como elemento decisivo para o vôo das feiticeiras (uma espécie de gasolina enfeitiçada) que lhes dava a habilidade do animal para suas revoadas das trevas.

Por causa de sua condição de detentor de poderes mágicos, o morcego foi tido, por muito tempo, como um amuleto protetor contra a malignidade do diabo, e como um elemento para atrair a sorte. Em certas partes da Alemanha, acreditava-se que o coração de um morcego, atado ao braço com um cordão vermelho, traria ao portador, sorte nos jogos de cartas. No Tirol austríaco, o feliz dono de um olho esquerdo de morcego podia tornar-se invisível aos outros no momento em que quisesse.

Algumas gotas de sangue mágico

O morcego tornou-se não apenas o animal encantado dos homens de uma tribo de Nova Gales do Sul, como seu símbolo sexual.


A mesma associação de crenças levou donzelas da Europa Central a conseguir a conquista dos namorados, usando algumas gotas de sangue de morcego em seu copo de cerveja.

O morcego foi, muitas vezes, adorado como entidade divina: era o deus supremo de índios americanos da costa do Pacífico. Eles o chamavam de Chamalkan. O poderoso deus-morcego de Samoa invariavelmente liderava o grupo, quando se marchava para a guerra. Na Europa, de acordo com uma velha lenda, o morcego entrou na guerra entre animais e pássaros, mas em dúvida quanto ao lado que seria de fato seu, lutou por ambas as partes.

Nas lendas de muitos índios americanos da região Norte do país, o morcego aparece na surpreendente situação de herói galante, defensor desprendido da humanidade em crise. A mais alegre e positivamente mais virtuosa versão dessa crença está sem dúvida, na moderna figura dos heróis americanos das estórias em quadrinhos, o Batman.

Radar e diabo lado a lado

Na Inglaterra entre os camponeses, era crença que o morcego furtava filé das casas entrando pela chaminé. Por isso uma canção popular dizia: “Vem morcego da chaminé, que lhe dou um pedaço de filé”

Ainda na atualidade, o sangue de morcego é usado na magia negra, especialmente quando se deseja ferir inimigos. 

Apesar da ciência saber o que faz o animal voar às cegas, no escuro, sem bater em nada, continua a idéia do diabo sempre associada à do morcego. Ele voa na escuridão, com movimentos certeiros, porque é capaz de sentir obstáculos, da mesma forma que o radar.

Os caboclos brasileiros sabem como pegar morcegos: fincam uma fina vara de bambu no chão e agitam freneticamente. A parte de cima da vara produz ruídos muito agudos, alguns dos quais inaudíveis ao ouvido  humano. O morcego recebe os sinais e voa  na direção da vara, bate e geralmente morre.

Além da aversão natural que o animal provoca, as mulheres tem outra razão para impedir que o morcego se aproxime de seus cabelos: pode enrolar-se neles e somente será dali tirado com o uso de uma tesoura, manipulada por um homem. Também aí nessa superstição há implicações sexuais, eróticas, pela associação homem-mulher.


Em muitos lugares, no entanto, o morcego pode indicar acontecimentos bons: Na Inglaterra, em certas áreas agrícolas, o vôo do morcego ao entardecer, é sinal de tempo bom pela frente.



Retirado da revista: Homem, Mito e Magia. Vol. I nº VI Pág. 124 a 126. Editora 3. São Paulo. 1973
 
 
 
 
 
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Cupendibe, Índios Morcego.


A existência dos Kupe-Dyeb (Cupendipe) é até hoje relatada na oralidade pelos Apinayé (de língua do tronco Macro-Gê setentrionais). Segundo eles existiu no Alto Tocantins (entre os estados de Góias e Tocantins no Brasil) um grupo de indígenas que possuíam asas, de hábitos noturnos e que voavam como morcegos. Esses seres alados eram conhecidos como Cupendipe, habitavam um morro e viviam dentro de cavernas. Quando voavam, conduziam os machados da lua, com os quais degolavam as pessoas e os animais. Eles não eram vampiros.
 
Certa vez, os Apinayé reunindo os guerreiros de dez aldeias foram atacar os Cupendipe. Chegando ao morro, fecharam as entradas da caverna com palhas secas, incendiando tudo em seguida.  Segundo eles, nesse ataque morreu um velho Cupendipe, ficando preso um menino que não tendo ainda asas não pode fugir. Com o intuito de capturá-lo os Apinayé entraram na caverna. Depois de longa busca, batendo com longas varas encontraram-no suspenso no teto, como se fosse um morcego.  Os Apinayé desejavam criá-lo na sua própria aldeia, então ele foi levado. Mas, não conseguiram o seu intento porque o pequeno Cupendipe  chorava muito e recusava todo o tipo de alimentação que não fosse milho e não deitava para dormir. Os Apinayé resolveram simular um local para que o pequeno dormisse de cabeça para baixo e então ele dormia um pouco. 
Um dia eles o observaram deitado no chão cantando. U-ua Klunã Klocire! Klud pecetire!” Então, ele agarrou o pescoço com as mãos. Quando os Apinagés perguntaram-lhe sobre isto, disse que seus companheiros dançavam daquele modo. Os Apinagés ainda cantam a canção do Kupe-dyeb. Segundo o relato, depois de alguns dias o menino morreu de tristeza e os Apinayé cantam essa canção até os dias atuais.

No ataque à caverna dos Cupendipe, os Apinayés juntaram um grande número de machados de lua e inúmeros adornos corporais. Os machados de lua são de forma semicircular, também denominados machados de âncora (Ihering) que constituem um elemento quase típico do grupo Gê.

Relatado  pela primeira vez por Curt Nimuendaju e publicado em seu livro The Apinayé (versão inglesa de Robert H. Lowie, The Catholic University of America Press, Washington, 1939, págs. 179-180).

Esses  seres alados também foram descritos em uma antiga carta escrita pelo explorador e naturalista Carl Huni:
"A entrada da caverna é guardada pelos índios morcegos, que são de pele escura e pequeno porte, mas têm grande força física. Seu olfato é mais desenvolvido do que dos melhores cães de caça. Mesmo que eles aprovem e deixem entrar nas cavernas, receio que quem o fizer estará perdido para o mundo presente, porque guardam um segredo muito cuidadosamente e não podem permitir que aqueles que entram possam sair”.

Huni descreveu que os índios morcegos viveriam em cavernas e sairiam apenas à noite para a floresta vizinha, mas sem manter contato com os chamados “moradores de baixo”. Para eles, segundo relatou o explorador, esses moradores habitavam uma cidade subterrânea, na qual formariam uma comunidade auto-suficiente e com uma considerável população.


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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Êxtase em Beltane




 Por Nyctaluz Noctula

É Beltane, os fogos iluminam
E nos trazem a purificação
Sabedoria vem da afinidade
Da pureza, nos dons que ensinam
E aprendemos na percepção,
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